Pergunta: O que é meditação (Dhyana)?
Bhagavan Ramana Maharshi: É permanecer como seu
próprio Ser sem desviar-se de maneira nenhuma de sua natureza real e sem sentir
que você está meditando.
Pergunta: Qual é a diferença entre Dhyana e
Samadhi?
Ramana: Dhyana é alcançada através de esforço mental
deliberado. Em Samadhi não há tal esforço.
Pergunta: Quais são os fatores a serem mantidos
em vista na meditação?
Ramana: É importante para aquele que está estabilizado
no seu Ser (atmanishtha) observar que ele não se desvie nem um pouquinho de sua
absorção. Ao desviar-se de sua natureza real, ele pode ver diante de si
refulgências brilhantes, ou escutar sons incomuns, ou considerar como reais
visões de Deuses aparecendo dentro e fora de si mesmo. Ele não deveria ser
enganado por tais coisas e esquecer de Si.
Pergunta: Não encontro meios de ir para dentro
através da meditação.
Ramana: Onde mais estamos agora? Nosso próprio Ser é
isso.
Pergunta: Mesmo assim somos ignorantes.
Ramana: Ignorantes do quê e de quem é a ignorância? Se
a ignorância é a respeito do Ser existem dois si mesmos (Selfes)?
Pergunta: Não há dois. Mas o sentimento de
limitação não pode ser negado.
Ramana: As limitações são apenas da mente. Você as
sentia no sono profundo? Você existe no sono profundo. Você não nega a sua
existência então. O mesmo Ser está aqui e agora no estado desperto. Você está
dizendo agora que há limitações. O que aconteceu agora é que existem diferenças
entre os dois estados. As diferenças devem-se à mente. Não há mente no sono
profundo, enquanto que agora ela está ativa. O Ser existe na ausência da mente
também.
Pergunta: Embora isso seja entendido, não é
percebido.
Ramana: Será pouco a pouco, com meditação.
Pergunta: Meditação é com a mente. Como ela pode
matar a mente para poder revelar o Ser?
Ramana: Meditação é firmar-se a um pensamento. Aquele
único pensamento mantém afastados os outros pensamentos. Distração da mente é
um sinal de sua fraqueza. Através de constante meditação ela ganha força, ou
seja, a fraqueza dos pensamentos fugitivos dá lugar ao duradouro pano de fundo
livre de pensamentos. Essa vastidão desprovida de pensamentos é o Ser. A mente
em pureza é o Ser.
Pergunta: Como a meditação deve ser praticada?
Ramana: Verdadeiramente falando, meditação é fixar-se
no Ser. Mas quando os pensamentos cruzam a mente e fazemos um esforço para
eliminá-los, o esforço geralmente é chamado de meditação. Atmanishtha (estar
fixado no Ser) é a sua natureza real. Permaneça como você é.
Esse é o objetivo.
Esse é o objetivo.
Pergunta: Mas os pensamentos aparecem. Nosso
esforço serve apenas para eliminar os pensamentos?
Ramana: Sim. A meditação sendo em um único pensamento,
os outros pensamentos são mantidos longe. A meditação apenas é negativa de
fato, na medida em que os pensamentos são mantidos afastados.
Pergunta: Fala-se em ‘fixar a mente no Ser’ (atma
samstham manah krtva). Mas não é possível pensar no Ser.
Ramana: De qualquer modo, por que você deseja meditar?
Porque você deseja meditar, lhe é dito para ‘fixar a mente no Ser’. Por que
você não permanece como você é sem meditar? O que é esta mente? Quando todos os
pensamentos são eliminados ela se torna ‘fixada no Ser’.
Pergunta: Se uma forma for dada, eu posso meditar
nela e os outros pensamentos são eliminados. Mas o Ser é sem forma.
Ramana: A meditação em formas ou objetos concretos é
dita ser Dhyana, enquanto que investigação do Ser é Vichara ou a ininterrupta
consciência de ser (de existir).
Pergunta: Há mais prazer na meditação do que nos
prazeres sensuais. Ainda assim a mente se apressa para obter os prazeres
sensuais e não busca a meditação. Por que é assim?
Ramana: Prazer e dor são aspectos da mente apenas.
Nossa natureza essencial é a felicidade. Mas nós esquecemos de nós mesmos (do
Ser) e imaginamos que o corpo ou a mente são o Ser. É essa identidade errada
que gera miséria. O que deve ser feito? Essa tendência mental é muito antiga e
tem continuado por inúmeros nascimentos passados. Dessa forma ela tem ficado
mais forte. Ela tem de ir antes que a natureza essencial, a felicidade, se
afirme.
Pergunta: A Meditação é praticada com os olhos
abertos ou fechados?
Bhagavan Ramana Maharshi: Pode ser feita de
ambos os jeitos. O ponto é que a mente deve estar introvertida e ser mantida
ativa na sua busca.
Às vezes acontece que quando os olhos estão
fechados, os pensamentos latentes se apressam com grande vigor. Pode ser
difícil também introverter a mente com os olhos abertos. Requer força da mente
para fazer isso. A mente fica contaminada quando ela absorve objetos.
Quando não, ela é pura. O principal fator na
meditação é manter a mente ativa na sua busca sem absorver impressões externas
ou pensar em outros assuntos.
Pergunta: Sempre que medito sinto um grande calor
na cabeça e, se persisto, meu corpo todo queima. Qual é a solução?
Ramana: Se a concentração é feita com o cérebro,
surgem sensações de aquecimento ou mesmo dor de cabeça. A concentração tem que
ser feita no Coração, o qual é fresco e refrescante. Relaxe e a sua meditação
será fácil. Mantenha sua mente estável gentilmente repelindo todos os
pensamentos intrusos mas sem esforço excessivo. Em breve você conseguirá.
Pergunta: Como evito cair no sono enquanto medito?
Ramana: Se você tentar evitar o sono isso significará
pensar na meditação, o que deve ser evitado. Mas se você adormecer enquanto
estiver meditando, a meditação irá continuar mesmo durante e depois do sono.
Ainda assim, sendo o sono um pensamento, devemos nos livrar dele, pois o estado
natural final tem de ser obtido conscientemente no estado desperto (jagrat) sem
o pensamento perturbado. O sono e o estado desperto são meras imagens na tela
do estado nativo livre de pensamentos. Deixe-os passarem desapercebidos.
Pergunta: Sobre o que devemos meditar?
Ramana: No que você preferir.
Pergunta: Shiva, Vishnu e Gayatri são ditos como
sendo igualmente eficazes.
Ramana: Qualquer um que você gostar mais. São todos
iguais em seu efeito. Mas você deveria se firmar a um.
Pergunta: E como eu medito?
Ramana: Concentre-se naquele que você gosta mais. Se
um único pensamento prevalece, todos os outros pensamentos são colocados para
fora e finalmente são erradicados. Enquanto a diversidade prevalece há maus
pensamentos. Quando apenas o objeto de amor prevalece, os bons pensamentos
mantém-se no campo. Portanto, segure-se a um pensamento apenas. Dhyana é a
prática principal.
Dhyana significa luta. Assim que você começa a
meditação, outros pensamentos se aglomeram. Junte força e tente aprofundar o
único pensamento com o qual você tenta se manter. O pensamento bom gradualmente
deve ganhar força através de repetida prática. Depois de ter ficado forte os
outros pensamentos vão ser mandados para longe. Essa é a batalha real que sempre
acontece na meditação.
A pessoa quer livrar-se da miséria. Isso requer
paz da mente, que significa ausência de perturbação devida a todos os tipos de
pensamentos. A paz da mente é trazida pela meditação apenas.
O resultado final da prática de qualquer tipo
de meditação é que o objeto no qual o buscador fixa sua mente deixa de existir
enquanto separado e distinto do sujeito. Eles, o sujeito e o objeto, tornam-se
o Ser uno, e esse é o Coração.
Pergunta: Por que Sri Bhagavan não nos diz para
praticarmos concentração em algum centro particular ou chakra?
Ramana: O Yoga Sastra diz que o sahasrara (o chakra
localizado no cérebro) é o lugar do Ser. O Purusha Suka declara que o coração é
o lugar dele. Para permitir que o buscador se livre de qualquer dúvida possível,
eu lhes digo para trilhar o caminho ou a pista do ‘sentido de eu’ (I’ness) ou o
‘sentido de eu sou’ (I’am-ness) e segui-lo até a sua fonte. Porque,
primeiramente, é impossível para alguém levantar qualquer dúvida a respeito
dessa noção de ‘eu’. Em segundo lugar, qualquer que seja o meio adotado, o
objetivo final é a realização da fonte do ‘sentido de eu sou’ o qual é o dado
primário da sua experiência.
Se você praticar portanto a investigação de si,
você alcançará o Coração que é o Ser.
Pergunta: Qual é a diferença entre meditação
(dhyana) e investigação (vichara)?
Ramana: Ambos dão no mesmo. Aqueles que não se adequam
à investigação devem praticar meditação. Na meditação o aspirante, esquecendo a
si mesmo, medita ‘eu sou Brahman’ ou ‘eu sou Shiva’ e através desse método se
mantém em Brahman ou Shiva. Isso irá terminar finalmente com a consciência
residual de Brahman ou Shiva na forma do Ser (da própria existência). Ele irá
então perceber que isso é o puro Ser, ou seja, o Si mesmo real.
Aquele que se engaja na investigação começa
mantendo-se em si mesmo, e perguntando a si mesmo ‘Quem sou eu?’ o Ser (o Si
mesmo real) torna-se claro para ele.
A pessoa imaginar mentalmente que ela é a
realidade suprema, que brilha como existência-consciência-contentamento, é
meditação. Fixar a mente no Ser para que a semente irreal da ilusão morra, é
investigação.
Quem quer que medite sobre o Ser em qualquer
imagem mental (bhava) atinge-o apenas naquela imagem. Aquelas pessoas pacíficas
que permanecem quietas sem nenhuma imagem mental desse tipo atingem o nobre e
inqualificável estado de Kaivalya, o estado sem forma do Ser.
Pergunta: A meditação é mais direta do que a
investigação pois mantém-se na verdade enquanto que a investigação filtra a
verdade da irrealidade?
Ramana: Para um iniciante a meditação em uma forma é
mais fácil e agradável. A prática dela leva à investigação de si que consiste
em peneirar a verdade da irrealidade.
Qual é a utilidade de segurar-se na verdade
quando você está cheio de fatores antagônicos?
A investigação de si conduz diretamente à
Realização ao remover os obstáculos que fazem você pensar que o Ser ainda não
está realizado.
A meditação difere de acordo com o grau de
desenvolvimento do buscador. Se a pessoa estiver apta, ela deve se manter no pensador,
e o pensador irá automaticamente afundar-se na sua fonte, a pura consciência.
Se a pessoa não pode segurar-se diretamente no
pensador ela deve meditar em Deus e no devido tempo esse mesmo indivíduo terá
se tornado suficientemente puro para se manter no pensador e afundar-se no Ser
absoluto.
A meditação é possível apenas se o Ego for
mantido.
Existe o ego e o objeto sobre o qual se está
meditando. O método é portanto indireto pois o Ser é apenas um.
Buscando o ego, ou seja, a fonte dele, o ego
desaparece.
O que sobra é o Ser. Esse é o método direto.
Fonte: Bhagavan Ramana Maharshi em Talks with
Ramana Maharshi
Sobre Meditação
Sobre Meditação
Sri Ramana Maharshi ensinava que nós
já somos o Eu Real, o ilimitado oceano de Ser-Consciência-Beatitude; que a
iluminação está sempre presente em todos, agora mesmo, sendo que apenas a nossa
ilusão de sermos uma alma individual (jiva), ou um ego, é que obscurece a
consciência do nosso verdadeiro estado. Bhagavan apontava, assim, que todo o
esforço espiritual é direcionado não para alcançar a Realização - pois esta já
está perenemente presente - mas sim para afastar todos os obstáculos à percepção
do nosso Ser.
Para Sri Ramana esses obstáculos não são reais ou substanciais, mas sim imaginários, produtos da mente. São meros conceitos, pensamentos. Explicava que todos esses pensamentos provêm de um pensamento raiz, do qual dependem, sendo que tal pensamento central é o ego, ou o que o Maharshi chamava de “pensamento-eu” (aham-vritti). Eliminando-se o ego (ahamkara), toda matriz da ilusão colapsa; o sofrimento e a limitação são banidos da vida irrevogavelmente. Dessa forma, a prática que ele aconselhava era a auto-inquirição, a prática de investigar a natureza e a origem desse pensamento-eu, o que é feito direcionando-se toda a nossa atenção para o sentimento interior “eu sou”, o sentimento não-dual de apenas ser.
A ferramenta por ele criada foi a de utilizar a pergunta “quem sou eu?” ou “de onde eu venho?” para trazer a mente de volta à inquirição toda vez que ela se desviasse rumo aos pensamentos ou percepções sensoriais. Com isso, o ego, que sobrevive apenas na dualidade, fica impedido de se conectar com qualquer outro pensamento ou conceito - tais como “eu sou isso”, “eu sou aquilo”, “eu sou assim, e não daquele jeito”, “eu faço isso”, “eu sei aquilo”, etc. - o que o força a retornar para a sua origem, o Eu Real, que é pura Consciência não-dual. Como alternativa a este caminho, Bhagavan ensinava que a entrega completa a Deus, ao Guru, ou ao Eu Real, também tem o mesmo efeito de extinguir o ego. Todas as outras formas de prática espiritual (sadhana), dizia ele, são indiretas, servindo apenas para o amadurecimento do discípulo e purificação da mente, sendo que ao final o buscador deverá cruzar por uma dessas duas portas (auto-inquirição ou a entrega).
À parte disso, enfatizava a importância de estar na presença de um ser realizado, um Guru ou Jnani, uma vez que a energia e presença de um ser assim têm um grande poder de purificar e silenciar a mente daqueles que estão a sua volta e em sintonia com ele. Porém, também ensinava que para todos está disponível a presença do verdadeiro Guru, o Eu Real, que está brilhando no coração de qualquer um, e pode guiar o caminho daqueles que voltam sua face em busca dele.
Bhagavan sempre enfatizava a necessidade de transcender o ego aqui e agora, e por esse motivo raramente adentrava em discussões metafísicas - tais como reencarnação, outros planos de existência, chakras, criação do universo, etc. - e desencorajava interesses espirituais que não estivessem diretamente ligados à experiência do Eu Real. Entretanto, é possível encontrar algumas discussões a respeito, sendo que mesmo nelas a sua forma direta e intensa de direcionar o buscador à percepção da verdade está sempre presente.
Nunca ninguém foi aconselhado pelo mestre a deixar seu trabalho, família ou vida em sociedade e tornar-se um monge ou renunciante. Sri Ramana sustentava que todos os seres humanos têm um destino a cumprir e que, independentemente do estilo de vida que caiba a cada um, todos podem sempre, onde quer que estejam e quaisquer que sejam suas atribuições, voltar-se para dentro em busca da Paz do Self.
Para Sri Ramana esses obstáculos não são reais ou substanciais, mas sim imaginários, produtos da mente. São meros conceitos, pensamentos. Explicava que todos esses pensamentos provêm de um pensamento raiz, do qual dependem, sendo que tal pensamento central é o ego, ou o que o Maharshi chamava de “pensamento-eu” (aham-vritti). Eliminando-se o ego (ahamkara), toda matriz da ilusão colapsa; o sofrimento e a limitação são banidos da vida irrevogavelmente. Dessa forma, a prática que ele aconselhava era a auto-inquirição, a prática de investigar a natureza e a origem desse pensamento-eu, o que é feito direcionando-se toda a nossa atenção para o sentimento interior “eu sou”, o sentimento não-dual de apenas ser.
A ferramenta por ele criada foi a de utilizar a pergunta “quem sou eu?” ou “de onde eu venho?” para trazer a mente de volta à inquirição toda vez que ela se desviasse rumo aos pensamentos ou percepções sensoriais. Com isso, o ego, que sobrevive apenas na dualidade, fica impedido de se conectar com qualquer outro pensamento ou conceito - tais como “eu sou isso”, “eu sou aquilo”, “eu sou assim, e não daquele jeito”, “eu faço isso”, “eu sei aquilo”, etc. - o que o força a retornar para a sua origem, o Eu Real, que é pura Consciência não-dual. Como alternativa a este caminho, Bhagavan ensinava que a entrega completa a Deus, ao Guru, ou ao Eu Real, também tem o mesmo efeito de extinguir o ego. Todas as outras formas de prática espiritual (sadhana), dizia ele, são indiretas, servindo apenas para o amadurecimento do discípulo e purificação da mente, sendo que ao final o buscador deverá cruzar por uma dessas duas portas (auto-inquirição ou a entrega).
À parte disso, enfatizava a importância de estar na presença de um ser realizado, um Guru ou Jnani, uma vez que a energia e presença de um ser assim têm um grande poder de purificar e silenciar a mente daqueles que estão a sua volta e em sintonia com ele. Porém, também ensinava que para todos está disponível a presença do verdadeiro Guru, o Eu Real, que está brilhando no coração de qualquer um, e pode guiar o caminho daqueles que voltam sua face em busca dele.
Bhagavan sempre enfatizava a necessidade de transcender o ego aqui e agora, e por esse motivo raramente adentrava em discussões metafísicas - tais como reencarnação, outros planos de existência, chakras, criação do universo, etc. - e desencorajava interesses espirituais que não estivessem diretamente ligados à experiência do Eu Real. Entretanto, é possível encontrar algumas discussões a respeito, sendo que mesmo nelas a sua forma direta e intensa de direcionar o buscador à percepção da verdade está sempre presente.
Nunca ninguém foi aconselhado pelo mestre a deixar seu trabalho, família ou vida em sociedade e tornar-se um monge ou renunciante. Sri Ramana sustentava que todos os seres humanos têm um destino a cumprir e que, independentemente do estilo de vida que caiba a cada um, todos podem sempre, onde quer que estejam e quaisquer que sejam suas atribuições, voltar-se para dentro em busca da Paz do Self.
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Seu dever é SER, e não ser isso ou ser aquilo. “Eu sou o que eu sou” resume toda a verdade. O método é “fique em silêncio”. O que significa o silêncio? Significa destrua-se, pois qualquer forma é causa de problemas.
Não há mistério maior que este: que sendo a Realidade nós buscamos alcançar a Realidade. Nós pensamos que existe algo ocultando a Verdade e que isso deve ser destruído a fim de que possamos atingir a Verdade. É ridículo. Chegará o dia em que você vai rir de todos os seus esforços pretéritos. Aquilo que será no dia em que você rir também é aqui e agora.
A liberação, que é bem-aventurança, é natural a todos.
A ignorância é uma ilusão da mente, uma falsa sensação.
Apenas o ego é prisão, e a sua própria natureza,
livre do contágio do ego, é liberação.
Não há engano maior do que acreditar que a liberação,
Que está sempre presente como a sua verdadeira natureza,
será alcançado em um tempo futuro.
Até mesmo o desejo pela liberação é fruto da ilusão.
Portanto, permaneça em silêncio.
Seu dever é SER, e não ser isso ou ser aquilo. “Eu sou o que eu sou” resume toda a verdade. O método é “fique em silêncio”. O que significa o silêncio? Significa destrua-se, pois qualquer forma é causa de problemas.
Não há mistério maior que este: que sendo a Realidade nós buscamos alcançar a Realidade. Nós pensamos que existe algo ocultando a Verdade e que isso deve ser destruído a fim de que possamos atingir a Verdade. É ridículo. Chegará o dia em que você vai rir de todos os seus esforços pretéritos. Aquilo que será no dia em que você rir também é aqui e agora.
A liberação, que é bem-aventurança, é natural a todos.
A ignorância é uma ilusão da mente, uma falsa sensação.
Apenas o ego é prisão, e a sua própria natureza,
livre do contágio do ego, é liberação.
Não há engano maior do que acreditar que a liberação,
Que está sempre presente como a sua verdadeira natureza,
será alcançado em um tempo futuro.
Até mesmo o desejo pela liberação é fruto da ilusão.
Portanto, permaneça em silêncio.
Se você permanecer como mera consciência, “eu sou”, a ignorância não existirá. Portanto, a ignorância é falsa; apenas a Consciência é real.
Para a aquietação da mente não há nenhum outro meio mais eficaz do que a auto-inquirição. Através dos outros métodos a mente apenas parecerá ter se aquietado, mas não será extinta; ela surgirá novamente.
Este é o método direto. Todos os outros métodos só podem ser praticados retendo-se o ego, e neles surgem muitas dúvidas, enquanto que a pergunta última é apenas atacada no final. Mas neste método, a pergunta última é a única pergunta e ela é levantada desde o começo.
A auto-inquirição o leva diretamente à Auto-Realização, pois remove os obstáculos que fazem você acreditar que o Eu Real ainda não foi alcançado.
A diferença entre a meditação e a auto-inquirição é que a meditação requer um objeto sobre o qual se foca a atenção, enquanto que na auto-inquirição há apenas o sujeito e nenhum objeto.
Pedir que a mente destrua a mente é como fazer do ladrão o policial: ele irá com você e vai parecer que ele prendeu o ladrão, mas nada será feito. Então o que você precisa fazer é olhar para dentro e ver de onde a mente surge. Uma vez que você vir a Fonte da mente, ela desaparecerá.
O primeiro pensamento a surgir na mente é o pensamento-eu. Todos os outros inumeráveis pensamentos surgem apenas depois do pensamento-eu e têm nele sua origem. Em outras palavras, apenas depois do pronome de primeira pessoa, “eu”, surgir, é que os pronomes de segunda e terceira pessoa, “tu” e “ele”, ocorrem para a mente; estes não subsistem sem aquele.
Como todos os outros pensamentos só podem surgir depois do aparecimento do pensamento-eu, e como a mente nada mais é do que um conglomerado de pensamentos, é apenas [voltando a atenção ao pensamento-eu] através da inquirição “Quem sou eu?” que a mente será extinta. Além disso, o pensamento-eu - implícito na investigação “Quem sou eu?” - destruirá todos os outros pensamentos e, como a vareta usada para avivar a fogueira, no final ele mesmo será consumido.
Você não precisa eliminar nenhum falso “eu”. Como pode o “eu” eliminar a si mesmo? Tudo o que você precisa fazer é encontrar a Fonte do “eu”, e permanecer lá. O seu esforço só pode levá-la até este ponto. A partir daí o Transcendental vai tomar conta de si mesmo. Você não pode fazer mais nada então. Nenhum esforço pode chegar até Ele.
O pensamento-“eu” é como um fantasma que, apesar de ser impalpável, surge simultaneamente com o corpo, vive e desaparece junto com ele. A consciência “eu sou o corpo/este é meu corpo” é o falso eu. Abandone-a. Você pode fazer isso buscando a fonte do sentimento “eu”. O corpo não diz “eu sou”. É você que diz “eu sou o corpo”. Descubra o que é este “eu”; busque sua fonte e ele desaparecerá.
Sua Mensagem Divina
Ramana Maharshi foi um exemplo vivo dos ensinamentos dos Upanishads. Sua vida foi, ao mesmo tempo, uma mensagem e a filosofia dos Seus ensinamentos. Ele falava para o coração das pessoas. O Grande Maharishi encontrou-se a Si mesmo dentro de si mesmo, e deu ao mundo a grande mas simples mensagem da sua grande vida: “Conheça a Ti mesmo”.
“Conheça a Ti mesmo. Tudo além será conhecido por sua própria harmonia. Discirna entre o eterno, imutável, todo inter-penetrante, infinito Atman e o sempre mutante, fenomênico e perecível universo e o corpo. Inquira: ´Quem sou eu?´. Faça a mente calma. Liberte-se a si mesmo de todos os pensamentos outros do que o simples pensamento do Ser ou Atman. Mergulhe profundamente dentro do quarto fechado do seu coração. Encontre-se no real e infinito “EU”. Descanse nele pacificamente para sempre, e se torne idêntico com o Ser Supremo”. Isso é o essencial na filosofia e ensinamentos de Sri Ramana Maharishi.
Sri Ramana dizia: “O mundo é infeliz por causa da sua ignorância do verdadeiro Ser. A verdadeira natureza humana é a felicidade. A felicidade é inata no verdadeiro Ser. A procura da felicidade pelo homem é uma procura inconsciente pelo verdadeiro Ser. O verdadeiro Ser é imperecível; portanto, quando alguém O encontra, encontra a felicidade a qual não tem fim. No interior da cavidade do coração, o Ser Supremo Uno, está sempre emitindo a emanação da auto-consciência “Eu” ... “Eu”. Para realizá-lo, entre dentro do seu coração com um ponto em mente - através da busca interna ou profundo mergulho ou controle da respiração - e permaneça do Ser do ser".
"O destino da alma é determinado segundo seu prarabdha-karma. O que não deve acontecer, não acontecerá, não importa o quanto você deseje. O que deve acontecer, acontecerá, não importa tudo o que você faça para evitar. Quanto a isso, não resta dúvida. Portanto, o melhor caminho é permanecer em silêncio."
"A consciência do corpo é o 'Eu' errado. Desista desta consciência-corpo. Isto é feito através da busca da fonte do 'Eu'. O corpo não diz 'Eu sou'. É você quem diz 'Eu sou o corpo'. Descubra quem é este 'Eu'. Procurando a sua fonte, ele irá desaparecer. Seja o que você é. Não existe nada para ser manifestado. Tudo o que é necessário é a perda do ego. A verdade de si mesmo é a única que vale a pena ser buscada e conhecida. Realização não é nada a ser adquirido. Ela está sempre aí, mas obstruída por uma tela de pensamentos.
Todos os seus esforços devem ser dirigidos para a superação desta tela, e então a realização é revelada. Realização é simplesmente a perda do ego. Destrua o ego pela procura da sua identidade. Uma vez que o ego não é nenhuma entidade, ele automaticamente desaparecerá, e a realidade irá brilhar por si mesma. Este é o método direto, enquanto todos os outros se concretizam somente através da retenção do ego"
Ramana Maharshi
Auto investigação – Ramana Maharshi
O pensamento-eu é a fonte de todos os
pensamentos.
A mente só vai se dissolver através da auto
investigação “Quem sou eu?”. O pensamento “Quem sou eu?” destruirá todos os
outros pensamentos e depois destruirá a si mesmo também. Se outros pensamentos
surgirem, devemos perguntar a quem esses pensamentos ocorrem, sem tentar
completá-los.
Que importa quantos pensamentos surgem? Na
medida em que cada pensamento surgir, devemos estar vigilantes e perguntar para
quem ele ocorre. A resposta será “para mim”. Se você perguntar “quem sou eu?”,
a mente então voltará à sua Fonte.
O pensamento que surgiu também desaparecerá. À
medida que você praticar dessa forma mais e mais, o poder da mente de
permanecer em sua Fonte aumentará.
Embora os apegos sensoriais, antigos e
imemoriais, possam surgir sob forma de incontáveis tendências mentais, assim
como as ondas surgem no mar, todos eles serão destruídos na medida em que a
meditação avançar. Devemos nos agarrar sem cessar à meditação do Ser, sem
duvidar da possibilidade de erradicar todas essas tendências e de só o Ser
permanecer. Por mais pecadora que uma pessoa possa ser, se ela parar de se
lamentar ” Ai de mim que sou um pecador! Como posso eu alcançar a libertação?”
e, abandonando até mesmo o pensamento de que é pecadora, se dedicar zelosamente
à auto inquirição, ela com certeza realizará o Ser (Atman).
Se o ego estiver presente, tudo o mais também
existirá. Se estiver ausente, tudo o mais desaparecerá. Como o ego é tudo isso,
investigar a sua natureza é a única forma de abandonar todo apego. Controlando
a fala e a respiração, e mergulhando fundo em nós mesmos, como alguém que
mergulha na água para recuperar algo que nela caiu, devemos, por meio de um
insight aguçado, descobrir a fonte de onde surge o ego.
A investigação, que é o caminho da Sabedoria,
não consiste em repetir verbalmente “eu, eu”, mas em buscar, por meio de uma
mente profundamente interiorizada, de onde o “eu” surge. Pensar “Eu não sou
isso”, “Eu sou aquilo” pode ajudar, mas não constitui a inquirição em si.
Quando questionamos dentro da nossa mente “Quem
sou eu?” e chegamos ao Coração, o “eu” sucumbe e imediatamente outra entidade
se revela proclamando “Eu-Eu”. Muito embora ela também surja dizendo “eu”, não
se trata mais do ego, mas sim da Existência Única, perfeita.
Se investigarmos incessantemente a forma da
mente, descobriremos que não existe algo chamado “mente”. Este é o caminho
direto aberto a todos.
A mente é constituída apenas de pensamentos, e
para todos eles a base ou fonte é o pensamento-”eu”. O “eu” é a mente. Se nos
voltarmos para dentro perguntando pela Fonte do “eu”, o “eu” sucumbe. Esta é a
investigação da Sabedoria. Onde o “eu” se dissolve, outra entidade emerge como
“Eu-Eu” por conta própria: é o Ser Perfeito.
É inútil remover as dúvidas. Se esclarecermos
uma, outra surgirá e não haverá fim para elas. Todas as dúvidas cessarão apenas
quando quem duvida e sua Fonte forem encontrados. Procure a Fonte do
responsável pela dúvida e você descobrirá que ele na realidade não existe. Se o
questionador cessar, as dúvidas também cessarão.
Como a Realidade é você mesmo, não há nada a
realizar. Todos tomam o irreal por real. É preciso que você desista de tomar o
irreal por real.
A finalidade de toda meditação ou repetição de
mantras é apenas isso – abrir mão de todos os pensamentos referentes ao não Eu;
é desistir de todos os pensamentos e concentrar-se num só. O objetivo de toda
prática é fazer com que a mente fique unifocada, concentrando-a num só
pensamento e assim excluindo os demais. Fazendo isso, no final até mesmo esse
pensamento único irá embora e a mente se extinguirá em sua fonte.
Quando inquirimos “Quem sou eu?”, o “eu”
investigado é o ego. Também é esse “eu” quem faz a autoinvestigação. O Ser não
tem inquirição. É o ego que faz a investigação. O “eu” sobre o qual a
investigação é feita também é ego. Como resultado da investigação, o ego deixa
de existir e descobrimos que somente o Eu Real existe.
Qual a melhor maneira de se aniquilar o ego?
Para cada um o melhor caminho é aquele que parece mais fácil ou que tem maior
apelo. Todos os caminhos são igualmente bons, na medida em que conduzem ao
mesmo objetivo: dissolver o ego no Eu Real. O que o devoto chama de entrega,
aquele que faz investigação chama de Sabedoria. Ambos estão tentando levar o
ego de volta à Fonte da qual ele surgiu e fazê-lo ser absorvido por ela. Pedir
que a mente mate a si mesma é como fazer do ladrão um policial. Ele irá com
você e fingirá prender o ladrão, mas nada será ganho. Portanto, volte-se para
dentro, veja de onde surge a mente e ela deixará de existir.
A respiração e a mente surgem da mesma fonte e
quando uma delas é controlada, a outra também fica controlada.
De fato, no método investigativo – no qual,
aliás, a pergunta “De onde eu vim?” seria mais correta do que “Quem sou eu?” –
não estamos simplesmente tentando eliminar, dizendo “não sou o corpo, nem os
sentidos” e assim por diante, visando alcançar a realidade última, mas sim
estamos procurando descobrir onde surge o pensamento-”eu” ou ego dentro de nós.
O método contém em si – de forma implícita – a observação da respiração.
Quando observamos de onde o pensamento-eu
surge, estamos observando também a fonte da respiração, já que tanto o
pensamento-”eu”quanto a respiração provêm da mesma Fonte.
O controle da respiração pode servir como uma
ajuda, mas por si mesmo nunca pode levar ao objetivo. Enquanto você o pratica
mecanicamente, procure manter a mente alerta, lembrando do pensamento-eu e da
busca pela sua Fonte. Então você descobrirá que o pensamento-eu surge do lugar
no qual a respiração desaparece. Eles desaparecem e emergem juntos. O
pensamento-”eu” também submergirá junto com a respiração. Simultaneamente, um
outro “Eu-Eu”- luminoso e infinito – emergirá, e será constante e
inquebrantável.
Este é o objetivo, o qual recebe diferentes
nomes: Deus, Eu Real, Kundalini , Shakti, Consciência, etc.
“Quem sou eu?” não é um mantra. Significa que
você deve descobrir onde em você surge o pensamento-”eu”, que é a fonte de
todos os outros pensamentos. Mas se você achar que o caminho da investigação é
difícil demais, continue a repetir “eu-eu”, e isso o levará ao mesmo objetivo.
Não há nenhum mal em usar o “eu” como um mantra. Trata-se do primeiro nome de
Deus, Eu Sou.
Peço que veja onde o “eu” surge em seu corpo;
mas realmente não é muito correto dizer que o “eu” surge e dissolve-se no
Coração no lado direito do peito. O Coração é outro nome para a Realidade e não
está nem dentro nem fora do corpo. Não pode haver nenhum dentro e fora para
Ela, já que a Realidade apenas é. Por “Coração” não me refiro a nenhum órgão
fisiológico, nenhum plexo de nervos ou qualquer coisa do gênero.
Mas enquanto a pessoa se identificar com o
corpo e pensar ser o corpo, ela é aconselhada a ver no corpo onde o
pensamento-”eu” surge e volta a se dissolver. Deve ser no Coração, no lado
direito do peito. Todo homem de qualquer raça, língua ou religião, quando diz “eu”,
aponta para o lado direito do peito para referir-se a si mesmo. Isso é
verdadeiro em todo o mundo. Portanto, esse deve ser o lugar. E observando-se de
forma perspicaz o constante surgimento do pensamento-”eu” no estado de vigília
e de seu desaparecimento no sono, podemos ver que surge no Coração no lado
direito.
Saiba primeiro quem você é. Isso não requer
escrituras ou erudição. É simplesmente experiência. O estado de Ser está aqui e
agora o tempo todo. Você perdeu contato consigo mesmo e está pedindo orientação
aos outros. O propósito da espiritualidade é voltar a mente para dentro. Se
você conhecer a si mesmo, nenhum mal poderá lhe acontecer. Como você me
perguntou, eu estou lhe dizendo. O ego só surge agarrando-se a você.
Permaneça no Eu Real e o ego desaparecerá.
Até este momento o sábio estará feliz dizendo:
“Eis aí”, e o ignorante perguntando: “Onde?”.
A regulação da vida, tal como levantar-se em
uma hora determinada, tomar banho, praticar repetição de mantras, etc., tudo
isso é para quem não se sente atraído pela auto investigação ou não é capaz de
fazê-la. Mas para aqueles que podem praticar esse método, todas as regras e
disciplinas são desnecessárias. Sem dúvida é dito em alguns livros que devemos
cultivar uma virtude após outra e assim nos prepararmos para a Libertação; mas
para os que seguem o caminho da Sabedoria ou da investigação, sua meditação é
por si só suficiente para adquirir todas as qualidades divinas.
Fonte: Sri Ramana Maharshi em Pérolas de
Sabedoria: Vida e Ensinamentos
Namastê!
OM...
Lavínia Harue