Como Afastar o Samsara
(Samsara é a ignorância do
verdadeiro EU, é o ciclo de morte e renascimento, o sofrimento , uma condição a
ser superada.)
Excerto do Cap. III do livro Advaita Bodha Deepika, recém publicado
Embora sendo Pura Sabedoria
Imutável por natureza, o Supremo Ser, quando associado à mente que muda
conforme as qualidades operantes no momento, identifica-se com ela.
D: Como isso pode ocorrer?
M: Você vê como a água, em si, é fria e insípida. No entanto, por associação,
pode ser quente, doce, amarga, azeda, etc. Da mesma forma, o Eu Real, que por
natureza é Ser-Consciência-Beatitude, aparece como ego quando associado ao
modo-“eu”. Assim como a água fria associada ao calor fica quente, também o
Bem-aventurado Ser, unido ao modo-“eu”, torna-se o ego carregado de
sofrimentos. Assim como a água, originalmente insípida, fica doce, amarga ou
azeda conforme as suas associações, também o Ser de Pura Sabedoria parece
imparcial, pacífico e bondoso [sattva]
ou impetuoso, raivoso e ambicioso [rajas],
ou ainda torpe e indolente [tamas],
segundo a qualidade do modo-“isto” no momento.
A escritura diz que o Ser, associado ao prana, etc., aparece respectivamente
como prana, mente, intelecto,
terra e outros elementos, desejo, raiva, desapaixonamento, etc.
Consequentemente, associado à mente, o Ser parece ter-se transformado na alma
individual, afundado no
sofrimento do infindável samsara,
e sendo enganado por inúmeras ilusões, como eu, tu, isto, meu, teu, etc.
D: Agora que o samsara
chegou ao Ser, como se pode afastá-lo?
M: Com a total quietude mental, o samsara
desaparecerá, causa e efeito. Do contrário, não haverá fim para o samsara, mesmo em milhões de éons.
D: Não será possível livrar-se do samsara
por algum outro meio além da aquietação da mente?
M: Absolutamente não; nem os Vedas,
nem os shastras [comentários], nem as práticas austeras, nem o karma, nem votos, nem dons, nem o
recitar de escrituras de fórmulas místicas (mantras), nem cultos, nem qualquer outra coisa
pode desfazer o samsara. Somente
a aquietação da mente pode atingir este fim, e nada mais.
D: As escrituras declaram que só a Sabedoria pode conseguir isso. Então,
como o senhor diz que a tranquilidade mental põe fim ao samsara?
M: O que é descrito nas escrituras de diversas formas como Sabedoria,
Libertação, etc., nada mais é do que o silenciar da mente.
D: Alguma outra pessoa já disse isto antes?
M: Sri Vasishta disse: Quando, pela prática, a mente fica imóvel, todas as ilusões do
samsara desaparecem, causa e
efeito. Assim como quando o oceano de leite encrespado foi batido para obter o
néctar e tornou-se calmo e límpido depois que o batedor foi retirado (a saber:
monte Mandara), também
ocorre que, ao silenciar a mente, o samsara
cai em descanso eterno.
D: Como levar a mente ao silêncio?
M: Pelo desapaixonamento e pelo abandono de tudo que nos é caro, pode-se,
por esforço próprio, realizar facilmente essa tarefa. Sem essa paz mental, a
Libertação é impossível. Apenas quando todo o mundo objetivo é extinto pela
mente desiludida, em consequência do conhecimento que discerne que tudo que não
é Brahman é objetivo e
irreal, é que resultará a Suprema Beatitude. Do contrário, se não há paz
mental, por mais que um homem ignorante se esforce e se arraste pelo abismo
profundo dos textos espirituais (shastras), não conseguirá obter a Libertação.
Só pode ser considerada morta a
mente que, pela prática do yoga,
perdeu todas as suas tendências e tornou-se pura e imóvel como uma lâmpada bem
protegida do vento por uma redoma. Essa morte da mente é a realização mais
elevada. A conclusão final de todos os Vedas
é que a Libertação nada mais é do que a mente silenciada.
Para a Libertação apenas uma mente
silenciosa tem valor; riqueza, parentes, amigos, karma resultante de movimentos dos membros, peregrinação a
lugares santos, banhar-se em águas sagradas, vida em regiões celestiais,
práticas austeras, por mais severas que sejam, ou qualquer outra coisa – nada
disso serve. Da mesma forma, muitos livros sagrados ensinam que a Libertação
consiste em abandonar a mente. Em várias passagens do Yoga Vasishta a mesma ideia se repete,
de que a Bem-aventurança da Libertação só pode ser alcançada pela extinção da
mente, que é a causa principal do samsara
e, portanto, de todo sofrimento.
Assim, matar a mente pelo
conhecimento dos ensinamentos sagrados, pelo raciocínio e pela experiência
pessoal é desfazer o samsara. De
que outra maneira pode ser parada a miserável roda de nascimentos e mortes? E
como pode a liberdade resultar disso? Nunca. A não ser que o sonhador desperte,
o sonho não termina, como não acaba o pavor de estar diante de um tigre, no
sonho. Igualmente, se a mente não estiver desiludida, a agonia do samsara não cessará. A única coisa é
que a mente precisa ser silenciada.
Esta é a realização da vida.
Excerto do Cap. III do livro Advaita Bodha Deepika, recém publicado
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