DEUS O ESPÍRITO ETERNO IMORTAL PURO INEFÁVEL INDESCRITÍVEL ONIPRESENTE ALÉM DE TODO UNIVERSO COSMOS, A MÃE TERRA SAGRADA DIVINA ABENÇOADA, A FONTE QUE TUDO É, A FONTE IMORTAL, ETERNA, INFINITA ABSOLUTA, INEFÁVEL, DIVINA,ETERNA...ONIPRESENTE... ONISCIENTE... ONIPOTENTE... OFERECE ESCOLHA .. DENTRO DO NOSSO CORAÇÃO, DO NOSSO ESPÍRITO ... O SEU EU VERDADEIRO, O SEU CRISTO PURO DIVINO IMORTAL INTERNO... VOCÊ ESTA AQUI PARA RECORDAR QUEM VOCÊ REALMENTE É ... !!! LAVÍNIA HARUÊ TRIPOLONI
Fundador do Instituto
Gesundheit, nos Estados Unidos, hospital filantrópico onde se pratica
medicina gratuita com Alegria e Compaixão, Adams se considera um
ativista político.
Patch Adams MD , é um médico que não parece, age ou pensa como
nenhum doutor que você conheceu antes. Para ele, humor é o melhor
remédio, e ele está disposto a fazer de tudo para que seus pacientes
sorriam e se curem...
FILME BASEADO NA HISTÓRIA DE PATCH ADAMS
ENTREVISTA COM PATCH ADAMS NO RODA VIVA - TV CULTURA
Cunha Jr.: Boa noite!
Ele vem mostrando ao mundo que rir é mesmo o melhor remédio, ainda mais
quando se trata de curar um doente. Mágoas e tristezas têm relação
direta com doenças, ao mesmo tempo que humor e alegria estão
diretamente ligados ao bem estar. Nosso convidado de hoje é um médico
que sabe tanto disso que recorreu ao nariz de palhaço e aos cabelos
coloridos para alegrar e diminuir o sofrimento de pessoas doentes. No
centro do Roda Viva, Patch Adams, o médico americano
que há mais de trinta anos vem transformando quarto de hospital em
picadeiro. Você vê a entrevista em instantes.
[intervalo]Cunha Jr. : Humor,
compaixão, alegria e esperança. Sentimentos que um médico raramente
consegue levar a um paciente, além dos remédios. Patch Adams, ao juntar
duas habilidades – a de médico e a de palhaço – criou uma terapia
voltada para a cura através do riso ou, ao menos, para diminuir o
sofrimento de pessoas que estão doentes. A idéia inspirou outros
profissionais no mundo e foi tema de um filme que fez muita gente rir e
também se comover.[Comentarista] : Patch Adams, o amor é contagioso.
O filme de 1998 [direção de Tom Shadyac e roteiro de Steve Oedekerk,
baseado no livro de Hunter "Patch" Doherty Adams e Maureen Mylander, Gesundheit: good health is a laughing matter],
com Robin Williams no papel principal, é baseado na história pessoal
de Hunter Adams, um americano que, ao entrar em depressão aos 40 anos
de idade, internou-se por conta própria numa clínica psiquiátrica.
Ganhou de um dos internos o apelido de Patch, que acabou adotando como
nome principal. Considerando que seus problemas eram pequenos
comparados aos dos demais internos, Patch Adams deixou a clínica
psiquiátrica. Dois anos depois decidiu estudar medicina e, já na
faculdade, chamou a atenção para seu estilo brincalhão e irreverente.
Com alegria e criatividade, aproximou-se de enfermeiros e pacientes,
procurando mostrar que compaixão, envolvimento, empatia e humor tinham
tanta importância no tratamento de doentes quanto remédios e
tecnologias novas. Alvo de críticas, idealista e um dos melhores alunos
da turma, Patch Adams contagiou colegas com a premissa de que o médico
deve melhorar a qualidade de vida do paciente e não apenas adiar a
morte. Depois de formado, em 1971, montou, nos Estados Unidos, sua
sonhada clínica, o Instituto Gesundheit, que significa saúde, em
alemão, e atende pacientes de graça. A clínica se tornou referência
para milhares de profissionais interessados no trabalho de Patch Adams,
e influenciou o surgimento de vários grupos no mundo. No Brasil,
existem várias entidades que, de maneiras diferentes, ajudam no
trabalho de recuperação de doentes. Entre os mais conhecidos estão os
Doutores da Alegria: artistas, profissionais especializados em artes
circenses e também treinados em procedimentos hospitalares trabalham em
duplas levando alegria e diversão a crianças hospitalizadas. Outro
grupo é a Associação Viva e Deixe Viver, formada por voluntários que se
dedicam a contar histórias para crianças e adolescentes internados em
hospitais. Longe dos centros urbanos, outro grupo, Projeto Saúde e
Alegria, leva atendimento médico, educação e cultura e ajuda a
implantar projetos sociais em 143 comunidades ribeirinhas da região
amazônica. Atenção, amor, esperança, generosidade são sentimentos que
permeiam esses trabalhos e formam a base da medicina mais humana que
Patch Adams divulga através de suas viagens pelo mundo. Uma delas,
patrocinada pela prefeitura de Roma, teve caráter de missão
humanitária. Patch Adams e um grupo de médicos e palhaços italianos
foram até o Afeganistão, país envolvido em guerras e conflitos que
fizeram muitas vítimas entre a população civil, especialmente entre as
crianças.
Cunha Jr. : Para entrevistar o médico Patch Adams,
convidamos Wellington Nogueira, fundador e coordenador-geral da ONG
Doutores da Alegria; Eugenio Scannavino Netto, médico fundador e
coordenador-geral do projeto Saúde e Alegria, de atendimento a
comunidades ribeirinhas na Amazônia – que também é um circo lá, segundo
ele me falou –; Cláudia Collucci, repórter de saúde do jornal Folha de S. Paulo
e mestre em história da ciência pela PUC [Pontifícia Univerdade
Católica] de São Paulo; Lúcia Helena de Oliveira, diretora da revista Saúde; Ricardo Westin, repórter especializado na área de saúde do jornal O Estado de S. Paulo; Silvia Campolim, editora-chefe da revista Pesquisa Médica.
Temos também a participação do cartunista Paulo Caruso, registrando em
seus desenhos os momentos e os flagrantes do programa. [Programa
gravado] Boa Noite, Patch Adams! Boa noite!
Patch Adams : Boa noite!Cunha Jr.:
Eu queria já esclarecer de vez – depois que a gente viu esse VT
explicando etc e tal que você ficou conhecido no mundo inteiro através
do filme, seu trabalho… não é? O que você achou do filme? O filme foi
fiel à sua história ou os roteiristas de Hollywood deram uma mexidinha,
fizeram alguma coisa a mais?Patch Adams :
No início, fiquei constrangido com o filme. Sou ativista político,
trabalho pela paz e pela justiça. Considero fascista o meu governo. Se
não mudarmos de uma sociedade que venera dinheiro e poder para uma que
venere compaixão e generosidade, não haverá esperança para a
sobrevivência do ser humano neste século. Precisamos deter um sistema
que, pela TV, estimula a concentração do dinheiro na mão de poucos.
Então… Hollywood queria vender ingressos. Duas coisas vendem ingresso:
violência e humor. Desse modo, preferiram enfatizar o meu esforço em
abrir o único “hospital maluco” da história. Ignoraram o fato – falo de
um país que se recusa a cuidar de 50 milhões de pessoas porque são
pobres – de que luto pela medicina gratuita. Se me permitem – estou
aqui na berlinda – posso corrigir algumas coisas do que foi lido?
Cunha Jr. : Claro!
Patch Adams :
Não concordo com “rir é o melhor remédio”. Eu nunca disse isso. A
amizade claramente é o melhor remédio. É a coisa mais importante na
vida. São nossas relações com aqueles que amamos. Infelizmente, os
meios de comunicação, sendo como são, muito antes de me conhecer,
imaginam que rir seja o melhor remédio. Então, quando escrevem o
artigo, põem essa frase porque o fazem, na realidade, sem pensar.
Também quero corrigir a idéia de que rir seja uma terapia. Também nunca
penso em música como terapia, nem em arte, nem em dança. Nunca
precisam da palavra “terapia”, que é pequena para ajudar. A arte não
precisa de ajuda da palavra “terapia”. É a cultura humana. Não fazemos
terapia de cultura. Se estamos saudáveis, fazemos cultura. Para mim,
humor é contexto. No nosso hospital, exigimos que o pessoal seja
alegre, gozado, carinhoso, cooperativo, criativo e atencioso. É um modo
para uma comunidade humana saudável integrar-se, para não haver
violência, para um cuidar do outro. Portanto, nunca penso… também nunca
penso na diferença entre levar humor para uma criança moribunda e ser
cordial com um homem de negócios no elevador. Para mim, são experiências
iguais. O filme dá a impressão de que estou prestes a entrar no quarto
de uma criança enferma e fazer palhaçada. É um filme bom e bonitinho,
mas não faz o Brasil querer alimentar todos os cidadãos famintos e
parar de matar o rio Amazonas. E eu quero proteger o Amazonas e acabar
com a violência contra as mulheres no mundo inteiro. E o filme podia
ter integrado isso tudo. Consegui ficar mais tranqüilo com o filme
porque o mundo está tão faminto – até da versão condensada, mais
simples de qualquer coisa ligada ao amor, porque o amor não está na TV,
nem em nenhum lugar, não é ensinado nas escolas – que qualquer versão,
até mesmo a versão hollywoodiana mais simples, o mundo aceita. Está
faminto por si. Eu assisti. Era um filme internacional de muito
sucesso. Estão famintos. Podia ter sido um filme muito mais
inteligente. No mesmo ano em que Patch Adams foi lançado, Benigni lançou A vida é bela,
na Itália. É uma versão bem mais inteligente, com uma mensagem
parecida. Sei que isso não é exatamente o que vocês queriam, mas como
estou na berlinda, esta situação permite que a conversa tome rumos que
as pessoas podem não ter pensado que pudesse tomar. Antes do filme,
quando tentei levar palhaços à guerra da Bósnia, a ONU [Organização das
Nações Unidas] levou sete meses para me dar a permissão. Disseram:
“Como pode querer levar palhaços para a guerra? Isso não é engraçado!”
Depois do filme, para a guerra em Kosovo, só levou quatro dias. E por
causa do filme, grupos de palhaços do mundo todo visitam hospitais.
Ajudou-os muitíssimo. Pessoas de mais de três mil projetos do mundo
todo disseram: “Vi o filme trinta vezes, adorei! É o meu filme
favorito. Abri esta clínica, esta escola, isto…” Mecânicos escrevem
para mim: “Vi o seu filme, agora faço um trabalho honesto.” E assim,
agora, sinto mais respeito pelas conseqüências, não pela inteligência
do filme. Sou um intelectual. Existem grandes filmes na história, este
não é um deles. Este é um filme comercial de Hollywood. Quanto à
veracidade do filme, na verdade, quem foi assassinado foi o meu melhor
amigo. É humilhante para a família dele, mas eu o conheço. Ficaria
feliz por ser interpretado por uma bela mulher [risos]. Iria convidá-la
para sair [risos]. Lembra-se da cena da convenção de ginecologistas,
das pernonas em cima da porta? [cena em que Adams é convocado a ajudar
nos preparativos de um seminário de ginecologistas, os quais são
recebidos, por obra de Adams, por uma grande armação em formato de duas
pernas gigantes abertas, que convergem para a porta do auditório
principal] Eu não faria aquilo, fui muito bem em anatomia feminina
[risos]. O verdadeiro filme do banho de macarrão, se viram, a minha
versão é muito mais engraçada e mais interessante [uma paciente
terminal diz a Adams, ao ser questionada por ele, que tinha um sonho
infantil de nadar em uma piscina de macarronada, desejo que é atendido
por Adams]. Tudo no filme foi atenuado. Muita gente pensa, porque
Hollywood é uma exageração. Na verdade, é uma atenuação. Fico muito
triste porque o meu nome está em filme em que não há paz e justiça.
Vocês viram, nesta entrevista, fiz com que fosse a primeira coisa sobre
o que falar.
Ricardo Westin :
Mr. Adams, você citou [que é] um filme de Hollywood, é um filme que
não se cita a paz, a justiça, mas tem um lado positivo de ter
incentivado pessoas no mundo inteiro a seguir seu exemplo, a palhaços
entrarem em hospitais… Mas, no seu caso específico, esse filme ajudou a
sua entidade a receber mais doações, a se construírem novos hospitais
que estão sob sua responsabilidade? Patch Adams :
Fiz o filme porque não consegui arrecadar dinheiro durante 28 anos
para erguer o que seria o único hospital-modelo do mundo para os
problemas de que ouço falar por médicos do mundo todo. Por ser um
hospital tão radical, ninguém quis me ajudar. A Universal Studios
prometeu erguer nosso hospital. O filme rendeu mais de quatrocentos
milhões de dólares. Ninguém ligado ao filme veio me dar nem um dólar
[pausa]. Ele me ajudou a ganhar mais pelas minhas apresentações. Antes
do filme, eu recebia 300 mil dólares por ano. Depois do filme, um
milhão de dólares por ano. Não guardo dinheiro. Escolhi não possuir
nada. Dou todo o dinheiro para podermos fazer mais. Também nos permitiu
começar a erguer clínicas e escolas pelo mundo e a expandir a nossa
atividade, mas não nos trouxe dinheiro para erguer o nosso hospital.
Cláudia Collucci :
Hoje o Brasil vive uma crise crônica na área da saúde, especialmente
na região Nordeste do país, com hospitais, paralisados, pacientes
morrendo sem assistência, pacientes dormindo no chão… Como trazer
alegria para um cenário tão caótico como esse? Sílvia Campolim : Posso acrescentar? Eu queria saber se ele… Patch Adams :
[Fazendo um som gutural semelhante à letra x] Uma pergunta por vez
fica mais fácil [olhando para os entrevistadores assustado]. Mas se
quiserem fazer duas…
Sílvia Campolim :
Eu quero só acrescentar se você tem alguma idéia para os médicos que
estão lá, nessa situação, se você faria alguma coisa… O que você faria?
Patch Adams : Esta é
uma idéia internacional. No mundo todo, não há hospital alegre. São
todos hierárquicos. Hospitais ricos não são alegres porque são
comerciais. Não há tempo para gastar com pacientes. Os médicos são
arrogantes, todo-poderosos e tratam todos os outros… Não todos os
médicos, mas a maioria. Reclamam de tudo. Ouvi estudantes de medicina.
Dei palestras em faculdades de medicina de 65 países. Recebo cartas de
médicos, enfermeiros, de estudantes de medicina do mundo todo, do
Brasil… Nos últimos três dias, devo ter visto mais de três mil
estudantes de medicina e de enfermagem. Não precisamos falar do norte
do Brasil. Aqui mesmo, nesta cidade, no mundo todo, a saúde pública não
é um lar vibrante, um ambiente acolhedor para o amor das pessoas para
proteger as pessoas que estão atendendo e proteger as pessoas que estão
sendo atendidas. No projeto do nosso hospital, o primeiro conceito
interessante é fazer um hospital fabuloso para o atendente e eliminar o
esgotamento emocional e físico. Nos Estados Unidos, quando erguermos o
nosso hospital, pagaremos para quem varre e para quem faz a cirurgia –
que pode ganhar três milhões de dólares por ano -… os dois terão o
mesmo salário, trezentos dólares por mês. Milhares de médicos e
enfermeiras candidataram-se para ganhar trezentos dólares por mês,
porque somos o único hospital dos Estados Unidos onde se pode trabalhar
com amor. Trocariam três milhões de dólares por trezentos dólares por
esse contexto. É a mesma razão pela qual tantos estudantes de medicina
comparecem às minhas palestras, loucos por poder praticar medicina com
amor. Amar o paciente, ser carinhoso com ele. Não quero fazer uma coisa
regional. Acontece no mundo inteiro! Como trabalhamos com a medicina?
Como as mães trabalham em casa. Não importa se o pai é ruim, nem se ele
gasta o dinheiro em bebida ou surra a mulher. Nem se ele ignora o
cuidado… A maioria das mulheres dá o sangue para deixar maravilhoso o
ambiente do lar. É o que as enfermeiras fazem no hospital, procuram
fazer isso no hospital. A questão não é lustrar tudo para procurar
trazer alegria para o hospital. Não vamos mudar o hospital – Deus nos
livre disso! Só vamos deixá-lo alegre! Lá! [entoando a nota musical em
alto volume, balançando a cabeça e sorrindo] Você tem razão! No
primeiro dia, como não podemos torná-lo alegre com uma varinha mágica:
“Din! Tudo é perfeito, não existe violência nem injustiça no mundo.
Ninguém destruindo a Amazônia”. Portanto, agora, nós podemos, todo
mundo pode escolher, todos os cidadãos que estão assistindo ao
programa… Deixem os hospitais para lá, todo lugar público aonde for
,desde o momento em que acorda com a família, a caminho do trabalho, no
metrô, em… onde quer que esteja, você pode escolher ser um cidadão que
traz alegria para a sociedade. É muito mais do que se concentrar…
Muitos palhaços fazem isso. Eles têm a roupa de palhaço, na maleta.
Entram no hospital, vão se trocar, vão para a ala infantil – muitas
vezes nem passam para brincar com os enfermeiros – brincam com as
crianças, tiram a roupa de palhaço, guardam e voltam para casa. Para
mim, estão desperdiçando todos os outros momentos lindos. No ônibus,
indo ao trabalho; no restaurante, onde comem… Por isso só uso roupa de
palhaço, porque quando há um momento… Esta sociedade não precisa
celebrar a alegria. Precisamos agarrar os ricos. Deixem para lá essa
bobagem da globalização. Fazer o sistema de valor… Retomar a TV para as
pessoas, para não ser mais comercial, para corporações de
multinacionais. Usar a TV a fim de educar as pessoas para o amor. Por
que as pessoas se interessam por essa bobagem do futebol? Antes da TV,
esporte era só uma coisa que as pessoas desfrutavam. Agora, gente do
esporte é gente multimilionária. As pessoas, nos Estados Unidos, pegam o
único dia livre, o domingo, e em vez de brincar com os filhos, de
namorar com a esposa, eles bebem cerveja com os colegas para torcer por
multimilionários que jogam bola. De algum modo, isso é interessante. A
TV poderia ser usada para impedir a violência contra as mulheres.
Espero que veja a ligação com a sua pergunta sobre os hospitais no
norte. Se não enfrentarmos o fato de que o dinheiro está sendo mal
gasto em Mercedes, o dinheiro… Disseram para mim: “a Wall Street…”
Hoje, vi a Wall Street de São Paulo. Igual a todas as ruas ricas de
todas as cidades do mundo. Nada é brasileiro naquela rua. Aqueles
arranha-céus de sempre com salas de executivos – tenho certeza -,
secretárias bajuladoras. Vocês estão me entendendo, não é? Como foi
isso? Como fomos enganados a acreditar que queremos um prédio enorme
para morar? Um carro elegante para dirigir? Muito dinheiro no banco?
Férias elegantes? E há pessoas com fome! E algumas pessoas vão à
igreja: “Sim, Jesus Cristo!” [erguendo e descendo os braços em sinal de
adoração]. Quanta bobagem! Estamos todos dentro de uma cesta de
mentiras! Porque sabemos do que precisamos. Precisamos de comida e de
amigos. Tendo isso, está tudo resolvido. Depois, você pensa: como posso
ajudar a minha gente? Como posso salvar o ambiente natural mais
interessante do mundo em vez de derrubá lo para plantar soja? E, claro,
se temos dinheiro sobrando não compramos uma porra de relógio… [com
uma expressão irônica se repreende] Xi, pega mal neste programa? Bobo!
Um relógio bobo [risos]! Compramos um relógio bobo por três mil dólares
e ficamos maravilhosos. Sem nem pensar, a gente nem pensa [elevando o
tom da voz] em mandar qualquer coisa de que não precisamos para a nossa
família, para nós, em uma linda casa humilde; para um hospital, para
que ele seja um hospital maravilhoso; para termos suficientes
faculdades de medicina e horários complementares de atendimento… Esse é
o nosso sonho! Não uma boa carteira de ações. E a idéia de dar a
atores medíocres de programas medíocres milhões de dólares, para
querermos ser como eles e os nossos filhos também. E ignorar esta
discussão porque, de algum modo, o “doutor da diversão” está aqui para
dizer: “Vamos deixar o hospital alegre para lidar com o fato de que nos
recusamos a cuidar das pessoas”.
Cunha Jr.: Nós vamos fazer agora um rápido… [sendo interrompido] Patch Adams : É melhor encerrar o programa? [Risos]
Cunha Jr. : Não, não, não!
Patch Adams : Está bem.
Cunha Jr. : Só um instante, um rápido intervalo. Nós voltamos num instante com o Roda Viva,
que hoje tem aqui na nossa platéia a Soraya Said, coordenadora
nacional de formação dos Doutores da Alegria; Gabriel de Araújo, que é
estudante de medicina da Universidade Federal Fluminense; Vera Cecília
Mackline, que é historiadora da medicina; e Luís Vieira Rocha, que é
diretor-executivo dos Doutores da Alegria; e ainda Arlete Inácio Lopes
Abreu, do Mensageiros da Alegria. A gente volta já, já!
[intervalo]
Cunha Jr. : Nós já
estamos de volta aqui entrevistando hoje o médico Patch Adams. Patch,
eu quero colocar aqui um depoimento muito pessoal. Eu sou jornalista –
as pessoas me conhecem – mas eu tenho um passado que muita gente não
conhece. Eu, antes de ser jornalista, eu fui médico. Estudei medicina e
fiquei muito contrariado com as coisas todas que eu vi durante o meu
curso. Por exemplo, no primeiro dia de aula, antes de eu ter a aula, eu
já fui abordado por um cara da indústria farmacêutica me dando amostra
grátis. Antes de eu ter a primeira aula! Isso já foi uma péssima
impressão. Depois, como eu queria fazer psiquiatria, eu passei uns
quatro anos em hospitais psiquiátricos. E fui chamado pelo… Algumas
coisas até são parecidas com as que aparecem no filme. Aquilo, por
exemplo, do médico chegar perto de um paciente rodeado de estudantes,
não saber nem o nome… aquilo acontece freqüentemente. De só estar…
“Aqui temos um câncer de pulmão” [reproduzindo a fala de alguém
mostrando um caso clínico de câncer de pulmão]. Ali é só visto o câncer
de pulmão ou o problema do fígado. Isso é muito normal. Agora, o que
aconteceu comigo, que fez me contrariar muito e até sair fora da
medicina e optar pelo jornalismo, onde eu fui mais feliz, foi um
episódio dentro do hospital psiquiátrico onde um paciente tinha um dom
muito grande para artes plásticas. Eu achei muito lindo o trabalho dele
e, inocentemente – ingenuamente, talvez – eu disse assim: “Eu acho
muito lindo. Gostaria de ter. Você vende para mim?” E ele disse:
“Vendo”. E vendeu. Fui chamado imediatamente pelo diretor do hospital
dizendo que eu estava interferindo no tratamento, que eu estava… [close
em Adams, apontando o dedo para Cunha Jr., em sinal de repreensão, de
forma irônica] – exatamente! – essa relação minha com ele não poderia
ser tão direta, que interferiria na terapia. Eu gostaria então que você
falasse sobre isso e se isso mudou, pelo seu conhecimento nas escolas
de medicina, se esse academicismo mudou e se não seria por aí que as
mudanças deveriam começar a ocorrer.
Patch Adams: De todos os países, de todas as faculdades de
medicina é do que você está falando. O que não entendo, com você e o
resto do mundo é… Thomas Jefferson [(1743-1826), presidente dos Estados
Unidos de 1801 a 1809, grande revolucionário e intelectual que, no
final do século XVIII, embaixador na França, participou da Revolução
Francesa, tendo sido inspirado por ideais iluministas a tornar os
Estados Unidos um país independente], em 26 [1826], escreveu na
Declaração de Independência… “quando, no curso dos acontecimento,
torna-se necessário, levantar-se contra a tirania”. Então, quando você
vê uma coisa errada com o seu casamento, consigo mesmo, no seu trabalho,
na sua escola… o que é que foi perdido que nunca foi ensinado na nossa
humanidade? O que você faz é o seu projeto. Tem razão. Tudo o que diz…
Eu odiei o primeiro dia. Mas entrei na faculdade de medicina para
fazer revolução. Eu sabia que nunca agiria como eles. Um exemplo:
quando vi médicos grosseiros em visitas… faziam círculos com pacientes e
a maioria deles, a maioria dos professores na faculdade procurava
menosprezar os alunos, diminuí-los, para se sentirem importantes.
Humilhavam os alunos em público, na frente de todo mundo. Todos deviam
ficar exclamando: “Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus!” [encolhendo
os ombros e olhado para cima, tremendo, em sinal de medo e desespero].
Eu dizia: “Que bela grosseria, doutor! Conseguiu acabar mesmo com esse
aluno! Quero ser grande e forte como o senhor quando eu crescer”
[risos]. O que nos faz calar? Você vê o chefe dar um beliscão na
secretária e disfarça. Você morre naquela hora. No instante em que cala
por medo de perder o cargo, você morre. Uma parte de você, uma parte de
ser humano morre. Como os hospitais do norte. O que é? O que nos faz
pensar… Jornalismo é ótimo porque não existe jornalismo! Não nos
Estados Unidos. São todos marionetes da riqueza. Antes o jornalismo
existia. Cinco empresas detêm 70% dos meios de comunicação do mundo. São
máquinas de propaganda, não existe jornalismo ali. Acha que alguém
deixaria Patch Adams dizer na TV dos Estados Unidos que Bush é nazista?
Nunca! O filme Patch Adams, com Robin Williams… “O riso é o melhor remédio. Compre Coca-Cola!”.
[...] : Patch…Patch Adams :
Deixe-me concluir esta pergunta. Não entendo porque, quando você vê
uma coisa errada: a violência aqui, nas suas cidades; mulher mal
tratada; homem bêbado que surra a mulher; criança na rua vendendo
droga, cheirando cola ou seja o que for que faz; gente dando tiro em
criança na rua, por prazer, que acontece aqui no Brasil… Então, o que
é? Qual é o truque? Essa é a pergunta que você deve fazer a si mesmo? O
status quo interessa a quem? Quem se beneficia? Um jornalista
pode descobrir. Eu sei quem se beneficia com tudo isso. São bons
negócios. Como é possível políticos servindo às grandes empresas que em
um hospital ninguém se rebele contra essa desumanidade? Está em todo
lugar, todo país. Quase todos os hospitais em todos os países. É assim.
É o nosso rabo entre as pernas? O que… Realmente me sinto, como
cidadão dos Estados Unidos, que menos de 10% da nossa população pensa.
Nunca pensa. Nunca! Trezentos e sessenta e cinco dias por ano, acho que
90% da população dos Estados Unidos nunca faz o que se chama de
“pensar”. Em inglês, é preciso dizer “pensamento crítico”, porque nos
distanciamos tanto do pensar que precisamos dar-lhe o apoio do
pensamento crítico [risos]. Quando o pensamento não é crítico? Isso foi
bem descrito pelo escritor tcheco Capek ou por Kafka.
É o que temos: robôs a serviço da saúde. Estou aqui para incentivar as
pessoas a ser a revolução na vida. Uma revolução é ser cordial. Uma
subseção a ser cordial é ser cordial com uma criança enferma
hospitalizada. Existem dez milhões de subseções a ser cordial. Wellington Nogueira :
Patch, eu, trabalhando no hospital, não sei mais onde começa e onde
termina o hospital, porque eu vejo doenças sendo cultivadas numa série
de relações com a vida. E eu acredito que um movimento como o que você
inspira, deflagra, é extremamente importante para tirar as pessoas da
anestesia. Qual é o futuro disso? Como que se pode tornar isso mais
forte para que se possa conseguir promover grandes mudanças que são tão
necessárias?
Patch Adams : Dê me um canal de TV! [Risos] Dê me um canal de TV não comercial com satélite de alcance global…
Sílvia Campolim: Alguma vez você tentou… Patch Adams : .Posso responder essa pergunta?
Sílvia Campolim : Sure [claro]!
Patch Adams : Posso estar no caos [olhando ao redor com
os braços abertos], mas sou um pensador [fecha os braços e aponta para
uma única e estreita direção]. Gosto de pensar que ele goste de eu
responder a pergunta.Silvia Campolim : Eu queria saber se alguma vez…
Patch Adams : Eu não estou ouvindo [mexendo em seu fone de ouvido]
Silvia Campolim : É [respondendo um comentário de alguém ao seu lado]… Patch Adams :
Você perguntou o que eu faria [referindo-se à Nogueira]. Um, eu não
deixaria que este programa falasse de tolices. Quero que o programa
tenha um significado para a causa. Você entende, não é [close em
Nogueira, balançando a cabeça em sinal afirmativo]? Então, aqui, nesta
visita ao Brasil, vou fazer duas apresentações. Uma é a oficina chamada
“Qual é a sua estratégia de amor?” Por quê? Porque quase ninguém no
mundo tem uma estratégia de amor. Como sei disso? Entrevistei muitos
milhares de pessoas. Desafiei o mundo a me trazer alguém e nunca
trouxeram. Entrevistas com pacientes de quatro horas. O amor é o mais
importante na vida. Por quarenta anos. E faço também com quem senta ao
meu lado no avião. Eu pergunto: “Qual é a sua estratégia de amor?” A
maioria dos homens diz: “O que você quer dizer?” Ninguém estava pronto
para, com ponderação, falar sobre a própria estratégia de amor. É
unânime em toda platéia. Ontem, 1.300 pessoas… “O que é mais importante
do que o amor?” Ninguém levanta a mão. Mas se eu der um papel e
disser: “Quinhentas palavras sobre a estratégia para o mais importante
da vida”, ninguém tem! Para a coisa mais importante da vida não temos
um plano bem pensado como temos para o futebol. Futebol é mais
importante do que amar. Não é ensinado nas escolas. Tento fazer
matemática simples, cinco horas por semana da escola elementar até a
média. Amor cinco horas por semana da escola elementar até a média. Aí,
o homem poderá ser gentil com a mulher. E a mulher não será uma bunda.
Talvez, certo? Se você viesse para a oficina, fizemos muitas coisas
radicais [dando ironia ao tom da voz]! Exercícios como fazer par com um
desconhecido. Decidir quem vai primeiro. Se for você, pegar a cabeça
do desconhecido nas mãos, olhar nos olhos e repetir, e repetir, e
repetir, exercitando a sua sinceridade: “Eu te amo. Eu te amo”. E só se
ouve a risada nervosa do público. Estão com um desconhecido, olhando
nos olhos, dizendo uma frase simples: eu te amo. É como podemos nos
sentir pela humanidade. Não sentimos, mas poderíamos. Também vim dar
uma palestra: “Humor e saúde”. Logo vi que a maioria do público era de
estudantes da área de saúde, famintos por terem algo incisivo. Então eu
falei: “Não vamos dar a palestra. Vamos passar duas horas de perguntas
e respostas”. Estavam entusiasmados! Tudo o que podíamos falar sobre
sistemas de saúde, os sonhos dos estudantes, o que está faltando, foi
discutido e foi ótimo. Também faço uma oficina: “Levando uma vida de
alegria”. Do que se trata? Trata-se de viver com alegria. E como é
fácil. Uma pessoa pode resolver hoje e nunca mais ter um dia ruim.
Temos feito viagens com palhaços para áreas de guerra, campos de
refugiados, após o tsunami e todas essas situações. Meu filho mais
velho é cineasta e levou equipes de filmagem em 14 viagens. A idéia era
fazer dez filmes de uma hora para ensinar o amor por todos. Cansei de
não ter nada na TV sobre amar todas as pessoas. Por que não há um só
presidente que diga: “Temos de amar todo mundo!”? Vamos decretar o dia
em que tudo o que fazemos… nem interagimos com as pessoas sem abraçar
primeiro. Nos restaurantes, na rua… Leva uma hora para andar uma quadra,
abraçando todo mundo. Imagine como será a vida, após uns cinco anos?
Se eu tivesse um canal de TV, 24 horas no ar poderia haver algo
constante, maravilhoso e não essa coisa tediosa e idiota! E a cada
cinco, três minutos, um intervalo comercial para outra porcaria.
Precisamos ter iniciativa. Algo simples seria entregar todos os cargos
de poder às mulheres. Deixar tudo sob a responsabilidade das mulheres.
Nos dois mil orfanatos onde estive, não havia sequer um homem
trabalhando. Campos de refugiados por todo lado, quem trabalha? As
mulheres. Os homens estão tomando chá. Eles são bons? É difícil saber.
As mulheres trabalham. Elas procuram fazer o que pedimos. Ser gentil em
casa, não importa o quão ruins as coisas estejam. Ser gentis na
estrada, se forem refugiadas, não importa o quão ruim as coisas
estejam. São estupradas pelos homens, que lhes roubam os filhos para
transformá-los em soldados-crianças. E ainda assim elas procuram fazer o
melhor que podem. Então, por que vim fazer este programa? Por que
estou aqui? Por que gasto o meu tempo com a TV? Recusei os grandes
programas de TV brasileiros. Não me importa aparecer na TV. Quero que,
quem ouvir, ouça coisas que nunca ouviu na TV vindo de alguém que
talvez respeite. Por isso vim para este programa. Porque o único
momento na TV de que gostei, em 25 anos de TV, foi de um canal chileno
chamado “A celebração da inteligência”. Foi o único programa de TV
inteligente. Depois do filme, fui para um programa de TV… sabe?:
“Bom-Dia, América!” [deixando o tronco ereto, como a reproduzir
ironicamente a postura de um apresentador sério de televisão]. Lixo! A minha cueca é mais limpa [risos].
Patch Adams:
No programa, devíamos fazer entrevistas. Parece que estamos
entrevistando. Não estamos entrevistando, ele está lendo um monitor!
[risos] No intervalo comercial, falei: “Maldição, olhe para mim!”
[gritando, risos]. Desculpe! Wellington Nogueira : E o palhaço dessa história?
Patch Adams : Quero ser justo. Devemos passar para outro? Defendo sempre a justiça. Cunha Jr. : Quem quer… o Eugênio não fez pergunta ainda. Por favor, Eugênio.
Eugênio Scannavino Netto :
Bom, eu tinha várias perguntas, já respondeu bastante [risos], mas…
Estou impressionado, porque eu esperava ver um médico palhaço – eu já
fui médico palhaço na Amazônia e sou um médico palhaço – e ver uma
pessoa cheia de conteúdo, cheia de idéia, que tem uma visão muito maior
de transformação do mundo, a qual eu compartilho também… E sei que
isso também traz angústia, não é? Porque a gente tem que ser o palhaço,
levar a alegria, mas no final a gente está mexendo com o sistema todo
de doença. Eu acho que a gente não tem um sistema de saúde nem no
Brasil nem no mundo. Nós temos um sistema de doenças que é focado no
hospital, na doença, no paciente. Em tratar e dar remédio. Além disso,
as relações dentro do hospital também são doentias: um briga com o
outro, todo mundo briga com todo mundo e o paciente briga também,
enfim. Eu acho que a gente tinha que construir um sistema de saúde que é
o que você fala bastante, não é? O que você falou agora são
transformações, são intervenções muito fulgazes. São coisas de você
trazer alegria. Como fazer um sistema de saúde, como transformar nossa
sociedade numa sociedade saudável no conceito maior da palavra? Mais ou
menos isso.
Patch Adams : Claro! Que eu sabia, nenhuma faculdade de
medicina ensina bem-estar. Nos meus quatro anos de estudo, nunca se
mencionou “saúde” [risos]. É a ausência de enfermidade! Que mentalidade
é essa? “Outro dia sem câncer!” É a visão da saúde. Nunca se fala em
exercícios nem em dieta e nem se fala em sentimento, amor. Na verdade,
falou-se em não falar sobre o amor. O que você disse, que o seu médico
falou [apontando para Cunha Jr.]: “Nunca converse com o seu paciente
psiquiátrico!”. Talvez tenha lido R.D. Laing. Teve a mesma crise.
“Boing!” [batendo com a mão fechada sobre a testa, risos]. Está na
autobiografia da juventude dele. Conhece R.D. Laing [close em Cunha Jr.,
balançando a cabeça em sinal afirmativo]? Bem… Onde aprendemos as
coisas? Nas escolas. Ensinam cuidados com a saúde da pré-escola até a
média do mesmo modo que ensinamos ciências, história, línguas. É um modo
de ser. Você dá um canal de TV, 24 horas no ar sem comerciais com os
cuidados com a saúde entremeados ali. Não dizendo: “Você precisa ficar
bem!”. Mas com sedução: “Eu quero! Quero saúde!”. E se, na faculdade de
medicina, ao menos durante uma aula por dia alguém faz uma massagem em
você. Alguém faz massagem em você. Você nem imaginaria examinar um
paciente sem antes fazer massagem nos pés dele. Só isso. A questão é que
existem milhões de gestos. E se, para poder entrar numa ala de um
hospital… se você não pudesse entrar a não ser cantando? Você teria de
estar cantando para entrar: “Zip-a-dee-doo-dah, zip-a-dee-ay, que dia
maravilhoso!” [cantando um trecho da premiada canção "Zip-a-dee-doo-dah", do clássico "A canção do sul - Song of the south",título original - da
Walt Disney, lançado em 1946, polêmico por ter sido o primeiro
longa-metragem da produtora norte-americana a misturar atores reais com
animação e por ter sido acusado de transmitir um esteriótipo racista. A
música tema ganhou o Oscar de Melhor Canção Original em 1947 e virou
um símbolo, utilizada em outras diversas animações da produtora e
regravada por grandes nomes da música norte-americana]. Imagine se os
hospitais tivessem na parede uma fotografia grande do médico escolhido
como o pior da semana? Ninguém ia querer ser escolhido. Começariam,
pensem… Imaginem quantas sugestões posso inventar em um dia. Todos
podemos trabalhar para isso e quantas sugestões haveria em uma semana? O
que decidirmos, há dez mil coisas. Para o patrocínio, precisamos
agarrar os ricos! As empresas são besteiras! Porque todas as mensagens
disponíveis para as crianças, na TV… dizem: “você quer dinheiro e
poder.” É a primeira mensagem e todas as crianças do mundo recebem. Se
forem pobres, roubam, vendem o corpo ou vendem os filhos. Se forem
ricas, ficam mais ricas. As três pessoas mais ricas têm tanto dinheiro
quanto as 48 nações mais pobres. A TV ensina que essas pessoas devem
ser admiradas: Paris Hilton, Donald Trump… Devem conhecer esses nomes.
Não são interessantes nem para o vizinho deles e alguém no Brasil. Você
conhece esses nomes? Lixo! Paris Hilton tem 800 milhões de dólares e
tem um livro que faz: “Olhe para mim. Olhe para mim” [colocando a mão
na testa]. Não quero nada de ruim para Paris Hilton, mas se você tem
dinheiro e não ajuda, você é um nada! Sinto muito. Vocês são parte do
problema e, neste século, estaremos extintos, o que será bom para todos
os outros animais e plantas. E não falamos sobre isso. Por isso, hoje,
não me calo. Imaginem os programas de saúde. Imaginem o que podia ser
feito! Por exemplo, ninguém assiste TV. Nunca. Todo o tempo será
dedicado ao bem-estar. O cidadão médio dos Estados Unidos assiste de
cinco a sete horas! Um programa de saúde diário com sete horas. É muito
cuidado com a saúde.
Cunha Jr. : Nós vamos fazer mais um intervalo. Pode ser? Mais um intervalo. Patch Adams : A paradinha… Para as pessoas poderem ir ao banheiro? [Risos]
Cunha Jr.: Yeah! Você quer ir? Patch Adams : Estou indo aqui mesmo. Esta mulher tinha uma pergunta. Certo? Cunha Jr. : No próximo bloco ela vai fazer a pergunta. E a Lúcia também.
Patch Adams : Lúcia! Santa Lúcia! [começa a cantar a
música de Santa Lúcia] Todo mundo! Todo mundo! Lá, lá, lá…. [levanta-se
da cadeira e passa a imitar um maestro regendo os entrevistadores e
convidados do programa, que cantarolam a música com o entrevistado.
Aplausos]. Muito bom! [sentando-se novamente]
Cunha Jr. : No próximo bloco então, a Lúcia e a Silvia
vão poder fazer as suas perguntas. Outras pessoas também. Nós já
voltamos em seguida. Na nossa platéia aqui nós temos o Igor Leonardo
Padovesi – está certo? – Motta, estudante de medicina da USP… [sendo
interrompido]
Patch Adams : Igor? Cunha Jr. :
Organizador do evento Patch Adams no Brasil… Exatamente! Luciana
Bernardo, que é presidente da Associação Viva e Deixe Viver; Daniel da
Motta Girardi, que é estudante de medicina da USP; Márcia Girardi, que é
estudante de medicina da USP também; e José Antônio Mancuso Filho, que
é estudante de medicina também da USP. Vamos a um rápido intervalo a
gente já volta! [intervalo]
Cunha Jr. : Bom, Roda Viva
está de volta com a entrevista nesta noite com o médico americano Patch
Adams. Nós temos aqui hoje participando o Wellington Nogueira, que é
fundador e coordenador-geral da ONG Doutores da Alegria; o Eugênio
Scannavino Netto, que é médico, fundador do projeto Saúde Alegria que
atende comunidades ribeirinhas na Amazônia; a Cláudia Colluci, que é
repórter de saúde do jornal Folha de S. Paulo; a Lúcia Helena de Oliveira, diretora da revista Saúde; o Ricardo Westin, que é repórter da área de saúde do jornal do O Estado de S. Paulo; e a Silvia Campolim, que é editora-chefe da revista Pesquisa Médica.
Bom, rapidamente você disse para mim que não apresentasse você como
médico americano porque você sentia envergonhado? Por ser apresentado
como americano? Patch Adams :
Tenho vergonha de ser americano. Somos o país terrorista. Todos sabemos
que não existem mais países. É a globalização. Não existem países. É
uma ilusão. As transnacionais são as donas do mundo. O século XX foi o
último com países. Não significa nada. Vindo para cá, o que vi de
Brasil? Então… vocês estão destruindo o que é Brasil, a Amazônia. Nunca
tive nacionalismo. O nacionalismo é um problema. Historicamente,
sempre foi um problema. É uma definição absurda, arbitrária de que
existe algum tipo de fronteira na terra. A população indígena dos
Estados Unidos achou incrível alguém poder pensar que possuía a terra.
Tenho vergonha sim. O mundo todo teme o meu país. E as pessoas estão
bravas com ele. Não sou esse tipo de gente. Quero condenar o meu país à
prisão perpétua por assassinato em massa. Lúcia Helena de Oliveira :
Bom, doutor Patch Adams, pelo que eu conheço do seu trabalho o senhor
sempre se preocupou em focar a pessoa mais do que a doença. E me
corrija se eu estiver errada a qualidade de vida mais do que a própria
cura. Eu queria falar um pouco sobre essa questão de cura e qualidade
de vida. Eu tenho a impressão que a medicina de hoje e a própria, o
próprio mercado, a indústria farmacêutica perseguem muito a cura sem se
importar com esse caminho até a cura como um efeito colateral que pode
acontecer ou não, do que a qualidade de vida. Por outro lado, talvez o
senhor fique bravo comigo, a gente tem aí as pessoas, especialmente
num país como o Brasil, que muitas vezes não têm acesso à cultura nem…
medicina então nem se fala, preocupadas com uma solução mágica para a
cura. Quer dizer, hoje em dia está muito em voga, no mundo inteiro, a
idéia do pensamento positivo. A força do pensamento. Quer dizer, eu
queria saber um pouco do senhor sobre essa questão da qualidade da vida
de um lado, estou sendo malandra, estou aproveitando para fazer duas
perguntas. E sobre a questão do pensamento positivo tão em voga. O que o
senhor acha dessa idéia que pulula por aí de que fazendo “Ohmmmmm” e
pensando e vibrando você vai ficar bem, você vai ficar saudável?
Patch Adams : Considerando tudo o que disse… Primeiro,
fez perguntas sobre cura. No fim, não fez perguntas sobre cura.
Perguntou sobre pensamento positivo e qualidade de vida. Não sei se
quer que eu fale sobre o que penso da cura.
Lúcia Helena de Oliveira : O senhor podia explicar… Patch Adams :
A cada ano que passa, fico mais humilde quanto ao conceito da cura. É
arrogância e é um perigo entrar na medicina ou em qualquer arte de cura
pensando no restabelecimento. Aprenderá humildade na primeira semana. O
seu trabalho não é curar, é cuidar. Você sempre pode cuidar.
Totalmente. Todo dia, o dia todo. Sempre pode cuidar. Nunca, jamais,
antes do tratamento pode garantir cura. Jamais. Jamais. Nunca. Não
importa a prática com essa doença, nunca poderá saber, antes de um
tratamento… a conseqüência exata desse tratamento. Falou algo de que
discordo: a indústria farmacêutica preocupa se com a cura. Ela nunca se
preocupa com a cura. Só se preocupa com o lucro. Tem a mais alta
margem de lucro do que qualquer outra no mundo. Vende substâncias
sabendo, por pesquisa, que não ajudam. Mas falsifica a pesquisa. Assim,
pílulas, pílulas perigosas serão dadas. Creio que todo remédio
psiquiátrico seja imperícia. Anti depressivos, ansiolíticos. Sabe que,
em toda a psiquiatria, não existe um livro de psiquiatria onde haja uma
declaração sobre saúde mental. Nem existe um enfoque para a saúde
mental. Em nenhum programa psiquiátrico do mundo, de quatro anos de
duração, se deu uma palestra sobre saúde mental. Não há idéia de que a
saúde mental seja algo do que você falou, qualidade de vida e
pensamento positivo. Lembram se do que falei sobre pensamento crítico?
Talvez eu possa dizer o mesmo sobre pensamento positivo. Para mim,
pensar é sempre positivo. Não pensar é negativo. Então, se você estiver
pensando, está tudo o que entra, tudo de que você se lembra, na sua
experiência de vida, tudo trabalha junto. Pensar é um vulcão
maravilhoso, e uma onda do oceano, e pássaros voando. Tudo está
acontecendo ali, com tudo o que leu, todas as idéias que acalentou. A
idéia do valor da vida humana, a importância do amor, dos amigos, todas
as belezas, toda a arte e todos os momentos importantes da sua vida.
Isso é pensar. Como é absurdo pensar que isso não seja ouro o tempo
todo. A discussão que tivemos, que está gravado sobre procurar fazer
perguntas e respostas mais objetivas. Nem consigo imaginar o que me foi
perguntado para controlar o que falei. Estou pensando na sua pergunta.
Estou pensando em tudo que sei. Tentando me sair com a melhor resposta
possível para o que me falou. Não estou tentando fazer um bom programa
de TV. Não estou tentando dar uma respostinha curta para que se possa
cortar para o intervalo comercial. Estou imaginando que você queira uma
resposta. São perguntas importantes. A do pensamento positivo. A
maioria das pessoas nem pensa. Acreditam que pensamento positivo
pressuponha pensamento negativo. É não pensando que vai concluir que
não é uma boa pessoa. Isso nunca é um bom pensamento. É não pensar. É
acreditando na imagem de que, se não for bonita, você não é bonita e
está pensando o que você chama de pensar, mas não é pensar. É
propaganda. Pensar é ouvir que a imagem de beleza é ter 20 anos, com
formas específicas – busto e tudo aquilo – e que isso é bonito. E
pensar diz: “Isso não é bonito”. A minha mãe dizia: “Bonito é o que faz
bonito”. Se isso é beleza, se você for gentil, isso é beleza. Se pensa
que beleza é ter 20 anos com formas específicas, então, a empresa
farmacêutica e a empresa de cosméticos vão ganhar milhões de bilhões de
dólares com o seu não pensar no que a beleza é. Então, ninguém na
minha idade é bonito. Temos rugas, sei lá. Injeções de botox… Na
verdade, não chegamos à qualidade de vida, não é? A TV define a
qualidade de vida para as pessoas. Na verdade, não planejam. Era sobre
isso a pergunta de Eugênio, cuidado com a saúde. Cuidados com a saúde.
Se qualidade de vida fosse importante, não haveria fome. Todos
trabalhariam até ter comida. Ninguém pararia. O que acontece quando tem
convidados e serve o jantar? Come antes de ver que todos tenham
comida? Nunca! Homem come. Mas você não, certo? Nunca. Grande refeição
familiar, muita gente para o jantar, você é a última a comer. Por que
isso não é uma verdade para o Brasil? Ninguém come até todos terem
comida. Isso é qualidade de vida. Nem recebemos educação. A maioria dos
homens nem pensa. Vai jantar, vai direto ao prato. Não esperam: “Quero
ver todos servidos antes de me servir”.
Cláudia Collucci : Quando Patch diz, a respeito à
indústria farmacêutica, eu só gostaria de perguntar o seguinte: o
assédio da indústria farmacêutica já começa nos bancos de faculdade
como o Cunha bem mencionou. Até que ponto isso atrapalha a relação
médico/paciente?
Patch Adams :
Então… É um bom negócio. As companhias farmacêuticas são as empresas
mais nojentas, fétidas e horrendas do planeta. Estão comprando a
Amazônia. Sabem disso? As transnacionais estão comprando a Amazônia. E
todos estão de acordo, pois a pesquisa sai do dinheiro da companhia
farmacêutica. E médico gosta de pesquisa. Ouvi estudantes de medicina
aqui falarem sempre que os professores pareciam mais interessados em
pesquisa do que em assistência médica. Contaminou tudo. E se o
capitalismo não fosse a pior coisa do mundo? A pior coisa na história:
capitalismo. Vai extinguir a nossa raça, não há dúvidas. Outro modo…
Dizem nos Estados Unidos: “Temos os remédios.” Certo, mas por que
escolhemos receber de gente mentirosa preocupada com os lucros,
horrorosa e indecente? Nos Estados Unidos, poderíamos abrir dez centros…
dinheiro dos contribuintes. Dez centros, com os maiores cérebros em
bioquímica, fisiologia, botânica, cujo trabalho é fazer ótimos remédios
para as pessoas pelo custo mais baixo possível, sem lucro. Os remédios
não custariam nada. Nunca nos dariam remédios enganosos. Mas ninguém
pensa nisso. Por causa do capitalismo deixamos que eles façam o que
quiserem conosco. Odeio o capitalismo. É a pior coisa que existe.
Cunha Jr.:
Nós vamos fazer, então, um rápido intervalo. Aqui na nossa platéia,
acompanhando, a gente tem o Valdir Cimino, diretor-fundador da
Associação Viva e Deixe Viver; Fernando Pereira Bruno, que é estudante
de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro e organizador do
evento Patch Adams no Brasil; Vivian Costa Manso… [sendo interrompido]
Patch Adams : Bravo, bravo! Cunha Jr. :
… que é psicóloga e musicista; o Marcos Martins, que é economista; e
Thaiane Silvério Batista Rosa, coordenadora do projeto Amigos do
Sorriso, Alegria da Família e estudante de medicina da Universidade de
Marília. A gente volta já, já![intervalo]
Cunha Jr. : Estamos de volta com o Roda Viva, hoje entrevistando o médico Patch Adams. Silvia, sua pergunta por favor. Silvia Campolim :
Doutor Patch, minha questão diz respeito ao seguinte: o Brasil tem
homens públicos de grande valor dedicados ao sistema de saúde, apesar
de todos os problemas do sistema de saúde, filas nos hospitais, demora
para… para acontecerem os exames, o atendimento precário. A gente tem
belas histórias de homens públicos que fizeram ou tentaram fazer coisas
interessantes aqui. E, graças a eles, a gente tem coisas interessantes
também, resultados bons. Transplantes acontecendo. O sistema público
dá conta de coisas muito importantes, não é? Na área de saúde. Então, a
minha questão é, ao mesmo tempo, o senhor diz que o filme a respeito
da sua vida não retrata exatamente qual foi a sua trajetória,
estereotipa essa coisa do humor e tal. E o senhor, a bem da verdade é
um “outsider”. Qual foi a história dessa opção por ser um “outsider” e
não um homem que, um profissional que se, que considerasse o serviço
público? Ou mesmo uma carreira política que pudesse mudar as coisas
mediante às leis? Eu queria saber um pouco dessa história sua. Patch Adams :
Primeiro, posso fazer uma recomendação? Nos últimos quatro dias, devo
ter passado mais tempo com os estudantes de medicina brasileiros do que
muita gente. Se eu tivesse a capacidade de montar um hospital de
última geração, 70% dos estudantes de medicina teria entrado. Eles se
formariam e iriam para esse hospital atender o povo. Se visse como
estão sedentos… Sei que os estudantes de medicina foram às palestras. A
palestra foi organizada por estudantes de medicina. Abriram mão de
quatro meses de vida. Ficaram atrasados nos estudos. É perigoso o que
estão fazendo. Quiseram trazer essa mensagem para os estudantes de
medicina porque ela afetou a vida deles. Eu lhe asseguro, se tivéssemos
um lugar, eles teriam ido. Se eu… Se cada pessoa que veio para a
palestra… fácil, alguns milhares de estudantes de medicina. Se tivessem
aonde ir, lugares lindos onde praticar a medicina, eles iriam. Estava
ali esperando, loucos por isso. Quando se formarem, não existirá. E não
há muita gente como eu. Podem decidir a pôr política na medicina.
Estou no 37º ano do projeto do hospital. Achei que levaria quatro anos
para erguer. Eu tinha certeza, porque estava determinado, o país
precisava, era uma ótima idéia, ninguém mais fazia isso. Eu tinha
certeza de que conseguiria patrocínio. Estou no 37º ano e não comecei a
construir o prédio. Todo dia, o meu entusiasmo aumenta. Nunca me sinto
desencorajado nem sinto que foi duro. Difícil, porque sei que é o certo
a fazer. Sei que os estudantes daqui querem que eu construa. Igor,
como estudante de medicina, foi para a nossa casa, em West Virgínia.
Pagou a passagem, passou um tempo lá. Porque estão loucos por um lugar
assim para praticar a medicina. Trabalhariam por muito menos dinheiro.
Deixem eu erguer o hospital aqui, vão querer pouco para trabalhar.
Ninguém ergueria hospitais com rapidez tal, de não acharmos médicos e
enfermeiros para trabalhar neles, se puderem realizar o sonho. Perguntou
o que eu fiz. Por que escolhi a rota política da medicina. Porque eu
penso. Porque o meu pai morreu na guerra, quando eu tinha 16 anos. Tive
de pensar na guerra, não como uma coisa abstrata que se vê em um filme
de guerra, mas porque perdi o meu pai na guerra. Então, voltamos para
os Estados Unidos, onde eu não havia morado, para o sul, em 1961. Os
negros não tinham o direito de usar o banheiro de um branco! Na terra do
homem livre! Democracia! Estátua da Liberdade! Bobagem! Os negros, 20%
da população, não podiam comer em restaurante, nem ir para hotel de
branco. Não podiam se sentar na frente do ônibus público. Eram cidadãos.
Isso doeu mais do que a morte do meu pai na guerra. Primeiro, eu quis
morrer. Se viram o filme Patch Adams, é verdade. Fui três
vezes para um sanatório, em um ano, com 18 anos. Mesmo sendo um garoto
feliz, eu não queria viver em um mundo de violência e injustiça.
Parecia que as pessoas não se importavam. Eu não conseguia acreditar
que alguém pudesse viver em um país da chamada democracia livre e não
permitir aos negros serem gente. Eu estava horrorizado. Racistas, é
claro que existem. Talvez existam para sempre. Como aqueles que se
dizem não racistas deixam isso acontecer? Eu não conseguia acreditar.
Fiquei desiludido. Tentei suicídio, eu não queria viver. Então, pensei…
Sabem, “pensar”. É sempre o pensar. Tudo o que fizer de bom para a
vida é pensar. Pensei, você não vai se suicidar, vai fazer revolução. A
minha biblioteca tem 18 mil livros. Eu soube. Tenho uma biblioteca
enorme. Fui estudar a história das revoluções. Estudei gente que faz
projetos e vi que são só pessoas. Ninguém era especial. Gandhi!
Era só um homem! Era advogado na África do Sul, as coisas não iam bem,
a justiça não funcionava direito e ele foi trabalhar pela justiça, por
uma lei diferente. Então vi que a minha meta era trabalhar pela paz,
pela justiça e pelo atendimento médico. A força veio porque tive uma
grande mãe. Só procuro ser como a minha mãe. A minha mãe só amou. Nunca a
vi fazendo uma maldade, algo errado, uma crítica. Só a vi dando amor
para mim. Para o meu irmão. O meu irmão, o outro filho dela, é meu
assistente. Ele tem 63 anos, eu tenho 62. Estamos loucos para ir a outro
campo de refugiados. A nossa mãe nos fez homens que querem tirar
férias em campo de refugiados. O pensar e a percepção de que eu vivia
em um mundo sob o capitalismo e sob o regime do amor pelo poder, em um
mundo que ama o dinheiro e tudo que uma grande biblioteca possa lhe
dizer – seja a biblioteca de livros sobre política, economia,
sociologia ou ambiente, ou política ou medicina – livros. Literatura. A
maior parte da minha biblioteca é poesia, teatro e ficção. Tenho 38
livros de Neruda. Do que ele fala? Do que… Paulo Freire… Do que ele fala? E Augusto Boal?
Do que ele fala? Li pelo que escreviam. Simplesmente, e faz sentido.
Se me preocupo com uma criança com câncer… por que não me preocupo com a
poluição? Hoje, em cada sete mulheres, uma tem câncer de mama. Quando
nos preocuparemos com a indústria dos organoclorados? A indústria dos
organoclorados gasta 160 milhões de dólares por ano para não sabermos
nada da indústria dos organoclorados. A maioria das pessoas aqui
desconhece a indústria dos organoclorados. Assim não acho que se deva ir
para longe da medicina. Olho o câncer… Sim, quero ajudar o câncer, mas
quero saber por que o câncer! Por quê? Por que a pessoa tem câncer? Eu
me interesso. A taxa mundial de suicídios, especialmente entre os
ricos, está subindo assim. Sim, é bom parar com suicídio, mas por quê?
Nos países mais ricos do mundo, a taxa de suicídio é mais alta. Penso
que um médico pergunta o porquê. Depois, dizem: “Qual é o plano para a
solução?” Parte do plano para solucionar… Por que este médico largou a
medicina? Porque era um nojo! É mais doloroso para uma alma trabalhar
com jornalismo. Até o jornalismo é um nojo! Não é tão nojento quanto ser
médico e trabalhar em algo insalubre. Mas precisamos planejar. Um dos
trabalhos de um médico é definir o que é saudável.
Ricardo Westin:
Uma pergunta mais sobre o seu trabalho do dia-a-dia. Imagina se, pela
forma que o senhor se veste, com gravata colorida, meia cada uma de uma
cor, uma calça vermelha, o brinco em forma de garfo, cabelo de duas
cores. Isso para esse trabalho de alegria com pacientes de seis anos,
imagino que funciona muito bem. E como é que o senhor lida com
pacientes de 60 anos? Como é que eles reagem? Que a aparência na nossa
sociedade influencia.
Patch Adams : Vamos voltar a outras perguntas como “o
que se pode fazer?” O que pode fazer uma pessoa que quer paz na Terra? O
que pode fazer uma pessoa que não quer violência? Procurando uma
imagem, experimentei cinqüenta brincos. Uso dois: o maxilar de um gambá
e o garfo. Sou cientista, provei os outros. Não funcionam. Procuro uma
imagem, para quando entrar no elevador, ou sentar do lado de alguém,
no avião, onde quer que eu esteja, ninguém possa resistir a começar a
conversar. Se eu começar a conversa, podem se sentir ameaçados, sou um
homem grande e esquisito Mas com esta imagem, 99% das pessoas vão fazer
um comentário, que pergunta, “por que você se veste assim?” Aí, o que
eu vou poder dizer? Posso dizer qualquer das coisas que falei aqui.
Eles perguntaram, só estou respondendo. Digamos, quero acabar com a
violência pública. Não sei se viram Tiros em Columbine,
de Michael Moore. A violência está em todo lugar dos Estados Unidos,
nos mercados. No Brasil, isso não deve acontecer. Adultos surram
crianças, homens são malvados com mulheres. Há um comportamento de
maldade pública. Você pensa: “O que posso fazer? Cadê o Super Homem?” Eu
não sou… o Super Homem estilo antigo. Arranco a roupa, vou até eles,
entro ali e digo: “Se bater na criança de novo, bato em você, pessoa
malvada!” Isso não ajuda a pessoa. Posso me levantar para mostrar uma
coisa? [levantando-se da cadeira] Diga que sim! Digamos que viro a
esquina do mercado. Vejo uma mãe e o filho. A mãe tem pressa, tudo é
estressante. A criança brinca com as caixas, as caixas caem. “Maldição!”
Normal nos Estados Unidos, certo? A maioria das pessoas – estudei
mercados – entra no corredor, vê aquilo, vai para outro corredor. Não
quer se meter. Sente-se incapaz de acabar com a briga. Todos querem, mas
sentem-se impotentes. Eu não. Posso fazer assim com a calça, puxar
para cima [puxa as pernas da calça acima do joelho - evidenciando que o
apresentador tem no pé direito uma meia azul e no esquerdo uma amarela
- e a cintura próxima ao peitoral, fazendo com que ela se transforme
em uma bermuda de palhaço. Risos] Patch Adams : Isso. Depois, vou no personagem de palhaço. Em trinta anos, 100% dessas brigas acabaram. São dez mil brigas.
Ricardo Westin : Quando você está frente com o paciente com a doença grave a relação tem que ser um pouco diferente ou não? Patch Adams :
Fiz vinte mil horas de palhaçada com paciente. Tenho um milhão de
coisas para levar em cada contato. Tenho radar para todo lado, para
todo mundo na sala… para tudo da sala. Primeiro, o meu olhar vai direto
para os olhos deles, olhar de amor. Tenho muitos brinquedos, 20, 25 kg
de brinquedos. Todos dentro das calças. Tenho um pato na cabeça, e
carrego um peixe. O meu personagem de palhaço é um adulto com síndrome
de Down. Porque o estilo dos adultos com síndrome de Down é amor
incondicional e engraçado. Entro ali, você pode estar coberta de
queimaduras o pior tipo. Eu não vejo. Vejo os seus olhos lindos. Você
vê que eu não vejo. Você vê… eu vejo você… em qualquer seja o seu caso,
pode estar à morte e eu estou do seu lado, na hora. Não imagino que
vou curar pessoas. Nem imagino que vou ajudá-las. Imagino que sei que
vou criar um relacionamento com elas. Esse relacionamento vai tornar
mais fácil o que quer que seja. Um exemplo: na Rússia, a maioria dos
hospitais não tem remédio pago, não tem dinheiro. Então, se tiver com
crianças com câncer, elas podem ter metástase no último grau, que dizem
ser a maior dor que um ser humano pode sentir. Uma mãe pode estar no
quarto com o filho, que não pára de chorar há cinco meses, por que a
metástase não desaparece. Nada tira a dor. Enquanto a criança estiver
acordada, só se ouve choro e gritos de dor. Até ela ficar tão exausta
que adormece. Quando o sono acaba, a dor reaparece e ela acorda
chorando. E isso é a única coisa que a mãe vê na criança, durante
meses. Sei que, 85% das vezes em que entro – e é como um palhaço –
elas param de chorar. Por isso, peço pelo pior.
Cunha Jr.:
Patch, infelizmente chegamos ao final do nosso programa. Eu quero
agradecer aqui então a sua presença e também da bancada de
entrevistadores. Agradecemos também a sua atenção e colaboração.
Lembrando que o Roda Viva estará de volta na próxima segunda feira às dez e quarenta da noite. Até lá e uma ótima semana para todos!